TÍTULO ORIGINAL: Talk To Me | Ano de Lançamento 2023 | Austrália, Reino Unido
DIREÇÃO: Danny Philippou e Michael Philippou
ELENCO: Sophie Wilde, Joe Bird, Alexandra Jensen, Miranda Otto, Zoe Terakes, Jayden Davison, Hamish Phillips
ROTEIRO:Danny Philippou, Bill Hinzman e Daley Pearson
DURAÇÃO: 94 minutos
DISTRIBUIÇÃO: Diamond Filmes
SINOPSE: Mia (Sophie Wilde) é uma jovem ainda emocionalmente abalada com a trágica e precoce perda da mãe. Buscando superar o seu luto e fugir da solidão ela se une a um grupo de amigos que descobre como invocar espíritos usando uma misteriosa mão embalsamada. Obcecados pela adrenalina, a situação foge ao controle ritualístico quando um deles vai longe demais, libertando com isso terríveis forças sobrenaturais.
RESENHA:
Com estreia nacional nesta quinta-feira (17 de agosto de 2023), “Fale Comigo” é desses filmes que perigosamente gera expectativa no público por inúmeros fatores, quer seja pela produção da consagradíssima A24 (Hereditário, Beau Tem Medo, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, enfim), como também pela pesadíssima e sistemática artilharia propagandística empreendida pela distribuidora Diamond Filmes, outro fato que contribui para a expectativa é que o filme vem sendo produzido desde 2021 e anunciado desde 2022.
UM FILME PARA ALÉM DO SUSPENSE!
O fascínio sobre o elo entre o mundo dos vivos e dos mortos permeia a humanidade desde tempos imemoriais, consagrando-se historicamente, sobretudo nas religiões e no imaginário popular até mesmo de quem não professa fé alguma. Os mistérios acerca da morte e o quem vem depois é tema que ainda gera e pelo visto gerará magníficos roteiros nos mais diversos gêneros cinematográficos possíveis, mas, justamente no suspense/terror é onde essa temática encontra melhor (e diria inclusive, mais apropriada) guarida.
Esse panorama serve para contextualizar de forma introdutória a narrativa abordada no filme, temos nele temas profundos e espinhosos, para além do mero suspense/terror. A proposta é densa e envolve questões de relevante cunho psicológico, a forma como o luto é enfrentado, até mesmo as relações interpessoais e familiar, estampado claramente na solidão vivida pela personagem principal Mia (Sophie Wilde). Nesse quesito a produtora A24 é simplesmente magnífica ao trazer reflexões que enaltecem de sobremodo uma história que poderia ser algo meramente superficial.
O que eleva a obra é a quase inexistência dos famosos e tão odiados “jump scares” (ou os sustos repentinos), clichê e por vezes apelativo em muitos desses filmes. Ao contrário o filme possui uma magnífica dosagem de suspense, capaz de provocar no público angustia, aflição, compaixão, empatia, na exata dosagem que certamente torna “Fale Comigo” um filme muito além do convencional (e eu adoro isso), e deve ser assistido mais de uma vez. Outro aspecto peculiar da A24, dificilmente você assiste apenas uma vez os filmes desta produtora.
Em dado momento o filme parece inclusive não se levar tão a sério, como uma espécie de “alívio cômico” dado a obra, isso se vê claramente nas cenas iniciais do processo ritualístico no qual os amigos se divertem. Essa estratégia da produção foi simplesmente excelente, na medida em que prepara o público para a literal “bagaceira” que se segue nas cenas posteriores.
Outra informação importante é de que o filme possui fortes cenas de “autoflagelo”, portanto, segue o alerta para pessoas sensíveis a esse tipo de cena. Bem como, segue a mesma advertência para quem ainda se encontra abalado(a) com a perda de algum ente amado(a). O filme mergulha fundo no drama da jovem protagonista e a perda precoce e trágica da sua mãe. A conturbada relação que possui com o próprio pai e a ausência de suporte psicológico para suportar as adversidades enfrentadas.
Para quem dispôr de maior reflexão e profundidade na análise dos personagens, principalmente a Mia e o personagem Riley, perceberá a relação de proximidade que eles possuem em dado momento do filme, como os diálogos se cadenciam em consonância com os fatos (sobrenaturais) ocorridos e suscita a hipótese quanto ao nível de sugestionamento ao qual os personagens estão envolvidos e a própria saúde mental destes. Como os eventos sobrenaturais atingem/afetam exclusivamente e objetivamente estes personagens e não os demais envolvidos na trama.
Quanto ao elenco não contamos com nenhum “medalhão” hollywoodiano, entranto, as atuações são ótimas e dão conta do recado naquilo que é demandado no contexto do filme, destaque obviamente para a protagonista Mia, uma jovem negra, interpretada por Sophie Wilde, cujo olhar é tão emblemático e expressivo que consegue traduzir o roteiro para muito além das palavras. Destaque também para a brilhante interpretação do ator Joe Bird, no papel de Riley.
Destaque maior para a cena final do filme, surpreendente, angustiante, triste e que deixa aquela velha pergunta. “Haverá continuação?”. Embora não seja do feitio da A24.
Um bom filme, que oportuniza um suspense refinado, associado transversalmente a uma relevante e necessária temática reflexiva do ponto de vista psicológico.
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Sessão especial de natal do Cine Horror 21 de dezembro na Sala Walter da Silveira (Salvador/BA) – 18:30h. Versão sem cortes. Duração: 85min. Entrada: R$5,00. Uma realização Pig Arts / GoreBahia