1 - Quando você passou a se identificar com o mundo da escrita e literatura?
Emerson Monteiro: Foram em momentos diferentes. Quando eu era criança gostava apenas de histórias em quadrinhos, lia livros apenas por obrigação escolar. Quando veio a pré-adolescência eu descobri a Série Vaga-lume, mas a virada de chave veio mesmo quando descobri dois livros essenciais para mina vida. O primeiro foi Perry Rhodan – O crepúsculo dos deuses. Um livro de ficção científica com vários elementos que eu conhecia apenas nos quadrinhos, então eu pensei que era possível encontrar livros com histórias que eu realmente gostasse de ler. O segundo foi O caso dos 10 negrinhos, de Agatha Christie, uma das tramas mais engenhosas que já li até hoje e aqui cabe um fato interessante: o meu exemplar é o mais misterioso de todos! Por quê? Simples, como é um exemplar bem velhinho, as páginas são frágeis e uma delas (importantíssima para a trama, diga-se de passagem) está pela metade. Isso mesmo! Rasgada, o que deixa, involuntariamente, o livro ainda mais misterioso. Quanto à escrita, ela só veio mesmo depois que adquiri meu hábito de leitura, foi quando comecei a questionar os finais e desenvolvimentos do que eu lia. E se eu escrevesse uma história do meu jeito? Isso lá no início dos anos 90, no momento em que eu estava terminando o ensino médio. Passei anos fazendo histórias manuscritas em cadernos.
2 - Qual é a sua experiência com o bloqueio de escritor?
EM: Meu bloqueio criativo é um pouco diferente. Quando algum conto ou livro meu empaca que nem uma mula teimosa, surgem novas ideias para outras tramas. O resultado disso são 25 livros e 7 contos inacabados. Vez por outra surge um edital para antologia e, caso eu não tenha algo pronto em arquivo, acabo passando à frente dessa lista um texto novo. Em resumo, alguns de meus livros serão concluídos em anos e outros em meses, vai depender desse bloqueio.
3 - Qual a sua maior dificuldade atualmente na escrita?
EM: O que dificulta minha escrita atualmente são as interrupções do cotidiano. Coisas como: a poluição sonora vinda de uma obra ao lado de onde moro, ter que dar atenção a questões domésticas... Caso contrário eu produziria muito mais.
4 - Quando foi seu começo no mundo da escrita do horror?
EM: O primeiro livro que escrevi foi fruto direto do clássico de Mary Shelley e uma reportagem sobre a tomada de Monte Castelo. Um enredo que, apesar de ter muito de Frankenstein, era mais de ação e aventura, principalmente a segunda parte, que era focada em um soldado brasileiro. Infelizmente, esse manuscrito foi perdido, mas pretendo tentar buscar na memória e reescrevê-lo. O terror veio depois, quando decidi escrever sobre uma trama policial misturada com horror e um sonho que eu tinha de escrever sobre uma infestação zumbi, os resultados foram: Há Sombras no Quarto dos Fundos e Sob Domínio – o horror invade as ruas. Tudo isso porque eu via filmes de terror desde criança.
5 - Já escreveu outras histórias que não de terror, horror ou suspense?
EM: Sim. Meu oitavo livro, O melhor aluno, é um livro mais leve, ele é de mistério e, embora o suspense exista, o que prevalece é uma jornada que fala sobre amizade, família e boas lembranças. Escrevi esse livro em homenagem à minha própria infância e adolescência. E existe também aquele que eu considero meu filho problemático, um livro que os bastidores renderiam um outro livro, estou falando de O clube das recatadas. A temática é voltada para o público feminino e é literatura hot. Não costumo divulgá-lo porque quero fazer uns ajustes e relançá-lo assim que possível, mas ele está lá no site do Clube de Autores, caso alguém se encaixe no público-alvo e queira conferir.
6 - O que não pode faltar em livro seu?
EM: Creio que o que prevalece em todas as histórias é, pelo menos, um momento de tensão, sabe, aquele momento em que te deixa nervoso, te deixa pensando o que vai acontecer, como o personagem vai sair daquela encrenca ou se vai sair. Outra coisa é a inserção de elementos telegrafados, coisas que podem ou não parecerem importantes, elas surgem numa cena e mostram sua real relevância mais adiante na trama.
7 - De onde surgem as ideias para seus contos e livros?
EM: No início vinha dos filmes, sonhos e outros livros, mas hoje não, qualquer coisa serve. Por exemplo, numa conversa com amigos, alguém falou sobre cocadas, então automaticamente criei um enredo de suspense e ficção científica que vai entrar no meu próximo livro.
8 - Como foi a sua sensação em publicar seu primeiro livro?
EM: Eu gostaria de dizer que foi uma sensação maravilhosa, de superação, de alegria, conquista, mas não. Infelizmente, quando publiquei meu primeiro livro eu pensei que ele seria o único. A alegria da conquista veio quando consegui lançar A Abóbora Assassina durante a Festa Literária do Pelourinho, ou seja, no meu quarto livro lançado. Eu havia descoberto que podia ser autor independente, vender meus livros e participar de eventos, aí sim eu fiquei contente.
9 - Quais os conselhos você dá aos escritores iniciantes?
EM: Primeiro: Só escreva se você gostar muito de escrever, deve ser algo prazeroso; Segundo: Leia muito e busque sempre referências e inspirações em filmes, séries, histórias contadas oralmente, cenas do quotidiano...; Terceiro: Pergunte-se se você, como leitor, gostaria muito da história que está escrevendo e se tal história vai empolgar uma boa quantidade de pessoas; Quarto: Se você encara escrever como uma missão de vida, não desista, seja um herói numa jornada cujo final terá uma compensação grandiosa, entregue pelas mãos de seus leitores.
10 - Quantos livros você escreveu até agora? Qual é seu favorito?
EM: Ao todo, atualmente, são 19 livros escritos, 11 deles publicados. É difícil escolher um, eu os tenho como filhos. Tive momentos maravilhosos ao desenvolver cada um deles. Como o final de: Os 10 Deuses da Trapaça, as desventuras amorosas de Romeu em Para minha doce Desmorta, a cena do casal de idosos que se reencontra em plena infestação zumbi de Sob Domínio... Em cada livro eu destacaria vários momentos. Amo todos eles, como disse, são meus filhos.
11 - É sempre você quem ilustra os seus livros?
EM: Eu sou desenhista desde que me entendo por gente. A minha vontade era que, não só as ilustrações, mas também as capas fossem feitas por mim. Além de mostrar minha arte, acredito que agrega valor ao livro ele ter a arte do próprio autor. Quase todos os meus livros são ilustrados e são desenhos por mim, apenas O Detetive das Sombras e Os 10 Deuses da Trapaça não tem capas minhas, mas foram feitas com ideias minhas. Quanto às antologias, tem três que fiz a capa e algumas eu ilustrei, como: Aconteceu em 77, A Mansão Escarlate, Detetives e 1987, por exemplo.
12 - Nos fale sobre o processo de pesquisa para a escrita.
EM: Eu leio muito e sobre os mais diversos assuntos. Assistir filmes é uma questão de pesquisa pra mim. Também pesquiso artigos científicos, vejo documentários e presto atenção em qualquer coisa que possa me render uma boa história. Um exemplo disso é um conto que escrevi recentemente. Para ele eu vi documentários e até artigos de TCC sobre uma cidade específica que cito no referido conto.
13 - Você tem rituais para escrever?
EM: Não. Geralmente coloco músicas que gosto, vou para a minha sala e escrevo.
14 - Quais suas inspirações na literatura e no cinema?
EM: Na literatura: Agatha Christie, Mary Shelley, Sidney Sheldon, Stephen King, Jorge Amado, Marcos Rey, Paulo Coelho, H.P. Lovecraft e Edgar Allan Poe.
No cinema: os filmes Alfred Hitchcock, as versões cinematográficas dos livros do King, filmes antigos de suspense, principalmente dos anos 70 e 80.
15 - Qual sua relação com cinema de horror?
EM: É uma relação de uma vida inteira. Eu acordava de madrugada para assistir os filmes de terror, naquela época, início da década de 80, sempre tinha algum passando. Vi quando criança Poltergeist, clássicos da Hammer, A volta dos mortos-vivos e um dos que mais amo: A morte de demônio. Ash é um dos meus heróis preferidos.
16 - Quando seu primeiro livro foi publicado?
EM: Há Sombras no Quarto dos Fundos foi publicado em 2016.
17 - Onde suas obras, onde podem ser encontradas?
EM: No site Clube de Autores.
Na UICLAP.
Antologia A Mansão Escarlate, organizada por mim com o pseudônimo de Jack Forest.
O Detetive das Sombras, versão física.
O Detetive das Sombras, versão e-book.
18 - Onde Emerson Monteiro pode ser encontrado pra melhor conhecê-lo?
EM: Os atuais e futuros leitores e/ou curiosos podem me encontrar no Instagram em duas páginas: @emersonmonteirodasilv e @emersonmonteirodelivros, este segundo é focado apenas nos livros e estou desenvolvendo aos poucos. Há também o e-mail emersonartedesigner@gmail.com
Júlio Ricardo Da Rosa é autor de O Inverno do Vampiro, vencedor do Prêmio de Narrativa Longa de Horror da Odisseia de Literatura Fantástica de 2020.