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ENTREVISTA com BETO BELTRÃO - PODCAST de "O RECIFE ASSOMBRADO"

Por: Saul Mendez Filho

 


Roberto Beltrão, artista, jornalista e criador de "O Recife Assombrado" (https://www.orecifeassombrado.com/) - projeto que há vinte anos ilumina os recônditos do horror na cultura pernambucana, estimulando e produzindo, com diversas parcerias e em multiplas linguagens, conteúdo narrativo sobre esse universo de lendas. O projeto é um exemplo de valorização da cultura regional e brasileira como um todo e o recente podcast (inaugurado em Junho deste ano) é, além disso, um entretenimento de gelar a espinha.


Tive a oportunidade de entrevistar Roberto online - na segurança de nossas casas, durante esta longa quarentena - e trocamos uma ideia sobre o programa, lobisomens tupiniquins com cara de porco, lendas urbanas e também projetos futuros.


SMF: Primeiro eu queria que você contasse um pouco sobre como o projeto chegou até o podcast. Já se sabe que O Recife Assombrado há tempos esteve envolvido em quadrinhos, literatura e agora um filme (que ainda queremos assistir!), mas o podcast é recente e faz parte de uma programação maior (no podcast Nosso Quintal). Como se formatou a ideia e essa parceria?


RB: O projeto O Recife Assombrado começou em 2000, como você sabe. Primeiro um site, depois fizemos os livros, vieram as HQs. Temos também parceria com Companhia Teatral Vivaz, do ator e diretor Paulo André Viana, que fez espetáculos baseados em meus contos. Houve também o filme Recife Assombrado do diretor Adriano Portela, do qual fomos colaboradores. Enfim... só nos faltava o podcast! A parceria surgiu quando o podcaster Alexandre Neres  fez uma entrevista comigo para o Nosso Quintal sobre o Recife Assombrado e isso virou uma amizade.  Mais de um ano depois surgiu a ideia de fazermos  o podcast assombrado dentro do projeto do Nosso Quintal, que tem o objetivo de divulgar a arte, falar de cultura. O Recife Assombrado sempre teve como uma das premissas fazer parcerias, estabelecer pontes. E esse novo trabalho com o Alexandre tem sido muito prazeroso, tenho aprendido muito.


SMF: Tendo chegado ao décimo segundo episódio, já deu pra sentir a diferença de lidar com o horror fantástico na linguagem de radio? Qual seria o maior desafio observado até agora na produção do conteúdo?


RB: O desafio é encontrar um caminho, achar uma identidade. Ainda estamos testando as ideias. Mas a base é aquele modelo do “mesacast”: um debate entre pessoas que gostam de um mesmo assunto (no caso, as assombrações e as histórias de horror).  Cada episódio, claro, demanda uma pesquisa, e a partir dela é feito um roteiro. Mas o que predomina é o bate-papo e o improviso. A ideia é trazer o ouvinte para o clima de uma conversa ao pé da fogueira, numa noite enluarada, quando muitas histórias sinistras e bizarras são contadas. Então penso que é uma evolução da linguagem do rádio no sentido de ser bem mais informal e acolhedora – uma ênfase ainda maior na oralidade, algo totalmente aquedado quando o tema são as narrativas fantasmagóricas. Em resumo: mesmo com uma pitada de humor e um bocado de informação histórica, queremos mesmo provocar pesadelos nos ouvintes.


SMF: Após dois meses de gravações, sente alguma diferença no resultado atual em relação aos episódios iniciais?


RB: Sim, estamos nos sentindo mais confortáveis na conversa, menos tímidos para improvisar. Vale lembrar que o “elenco” fixo do podcast é com a Renata Moura, Youtuber do canal Mundo Sinistro (mundosinistro.com). Ela conhece profundamente o universo das lendas urbanas e é uma excelente contadora de histórias.  Em muitos episódios temos um convidado:  já participaram escritores, jornalistas, pesquisadores, caça-fantasmas... e muitos mais virão. A nossa lista de futuros convidados está crescendo...


 



 


SMF: É curioso observar que a escolha para o primeiro episódio foi logo o Lobisomem. Você tem algum apreço pessoal por esse mito universal, ou existe algum motivo que o torna especial especificamente nos mitos do recife assombrado? Podemos falar de um lobisomem caracteristicamente brasileiro?


RB: Acho que o lobisomem é um assunto inevitável quando a gente fala de imaginário popular e horror. O mito é fantástico porque  vem da Europa, ganha contornos regionais sem perder a universalidade e fala sobre o lado animalesco do ser humano. Existe um lobisomem tipicamente brasileiro: como em nossas terras não habitam grandes lobos, o nosso imaginário popular concebe o monstro apenas com um animal grande e deformado – às vezes parecido com um bezerro e muitas vezes semelhante a um porco! Não seria exagero dizer que no Brasil existe mesmo um “Porquisomem”.


SMF: Pessoalmente achei muito interessante o episódio “Assombrações do Interior” e, é claro, “A Perna Cabeluda”. Caberia associar o surgimento dessas lendas à mesma sensação vivenciada por aventureiros nos séculos XVI e XVII no Brasil, que culminou nas mais loucas representações gráficas de zoologia fantástica?


RB: Sem dúvida! Mesmo em tempos diferentes da história esses confrontos com situações misteriosas, como uma nova terra a ser descoberta, geram narrativas fantásticas que se perpetuam ao longo das gerações.  A folclorista Rúbia Lóssio, minha parceira na produção do “Almanaque Pernambucano dos Causo, Mal-assombros e Lorotas”, sempre diz que toda lenda nasce de uma situação real que toma dimensões sobrenaturais a partir das várias camadas de narrativas que vão se somando ao episódio.  No caso da Perna Cabeluda, possivelmente uma ocorrência policial comum deu a partida no boato que se transformou na maior onda de pânico já vista no Recife. Isso porque as rádios e os jornais da época contribuíram para espalhar a nova lenda urbana, reforçando o boca-a-boca.


SMF: Essa dinamicidade do folclore como um fenômeno é muito legal mesmo. Vale muito o pessoal conferir o episódio sobre "A Perna Cabeluda", e todos os demais! Pra encerrar: entre quadrinhos, literatura, cinema e podcast, a multipla e criativa jornada do Recife Assombrado, o que foi mais divertido fazer até agora? O que viria a seguir?


RB: Todos os projetos foram desafiadores e divertidos! Conhecemos muitos contadores de histórias, fizemos muitas amizades, fomos a vários lugares, fizemos muitas pesquisas, aprendemos os segredos dessas várias formas de expressão. E esperamos descobrir novas ideias para abraçar. Quanto a mim, vou voltar a publicar: um novo livro está programado para sair ainda este ano e outros dois estão programados para o ano que vem!


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Ouça "O Recife Assombrado" no Podcast Nosso Quintal:


Soundcloud: https://soundcloud.com/user-81517185


Spotify: https://open.spotify.com/show/3Mby4WQpKUKKkChcVoGf6P

Entrevistas
https://www.cinehorror.com.br/entrevistas/entrevista-com-beto-beltrao-podcast-de-equoto-recife-assombradoequot?id=623
| 941 | 16/09/2020
Projeto iniciado em 2000, "O Recife Assombrado" já realizou quadrinhos, literatura, teatro, cinema, e agora apresenta um podcast abordando lendas e mitos assustadores do Brasil, em um formato informal com clima de pé de fogueira.
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