(Color Out of Space, POR/EUA/MAL, 2019)
Direção: Richard Stanley
Roteiro: Scarlett Amaris.
Elenco: Nicolas Cage, Q'orianka Kilcher, Joely Richardson.
Duração: 111 min.
Produzido pelas mesmas Spectrevision / XYZ que nos trouxeram Mandy (2018), com o mesmo Nicolas Cage; contando com o apoio da autoridade turística do Ministério da Economia português denominada “Turismo de Portugal” (e com ampla equipe técnica portuguesa e belas locações na região de Sintra), além de efeitos práticos e de CG da madrileña User T38 (Verónica, 2017; Mama, 2013), o problema em Color Out of Space parece vir especificamente do roteiro desenvolvido pelo diretor Richard Stanley com sua parceira ocultista Scarlett Amaris.
Apesar da boa premissa de unir os aspectos do conto em um só tempo - o hidrologista de Boston (aqui, de Providence) participa dos acontecimentos nos arredores de Arkham com a família Gardner, enquanto a história se passa na atualidade e não em 1882 - a construção dos personagens, desenvolvimento geral e principalmente a resolução de situações se converte em um emaranhado atrapalhado de elementos. Temos uma gótica suave que anda a cavalo, raios de energia rosa e alterações biológicas, estranhos insetos, contaminação na água, vozes vindas do subsolo, uma presença poderosa em um poço, um ritual com o Necronomicon, um hippie entendido em tecnologia (única premissa encontrada pra inserir uma participação do Tommy Chong), árvores que atacam, um cara que só tem camisas da Universidade Miskatonic, alpacas (?) e piadinhas meia-boca. Volta e meia alguém desaparece, algo acontece só pra não deixar alguma ponta solta, ou uma frase é dita pra fazer exatamente o contrário. Cage, Joely Richardson e Julian Hilliard poderiam dar muito de suas capacidades aqui, se tivessem um bom texto de onde partir. No entanto, todos parecem extremamente subutilizados.
O clima geral – não que isso seja ruim – é que estamos assistindo um antigo filme do Brian Yuzna almejando ser Stuart Gordon, e em diversos momentos é ótimo (efeitos práticos, mutações!), mas não o bastante pra aplacar o fato de estarmos assistindo um filme de quem nos trouxe Hardware (1990) e Dust Devil (1992). Assiste-se um divertido e genérico filme de horror, que com seus efeitos visuais em alguns momentos consegue tocar um pouco da obra de Lovecraft, e onde nada se observa de autoral ou artístico na mesma veia de suas obras primas. Vindo das mesmas produtoras que respeitaram a visão de Panos Cosmatos em Mandy (2018), entende-se que as escolhas de Stanley foram as mesmas que se observam no resultado. E observamos aqui mais do falho roteirista e diretor inicial de um bagunçado The Island of Dr. Moreau (1996) do que do visionário de antigamente, quando se esperava, justamente neste momento, uma retomada primorosa. Ainda assim, é um retorno válido e talvez um primeiro passo em terra firme – sem dúvida alguma o filme fornece todos os elementos para agradar os fãs do horror da velha guarda, e reinsere o diretor de forma eficiente o bastante num cinema de maiores proporções. Vale assistir, no entanto, sem grandes expectativas.
IV CINE HORROR - Mostra de Cinema Fantástico. 17, 18, 19, 20, 25, 26 e 27 de Outubro - 2019