O slasher, popular sub-gênero dos filmes de terror hollywoodiano, tem influência do cinema italiano dos anos 60, tendo início com O Massacre da Serra Elétrica e Noite do Terror, ambos de 1974, se solidificando com uma das obras primas de John Carpenter, Halloween.
Consolidado, o slasher se tornou o sub-gênero de terror mais famoso e lucrativo nas décadas de 70 e 80, gerando franquias e mais franquias, com inúmeros filmes, abusando dos clichês, das tramas já batidas. Resumidos a um grupo de jovens, sempre retratados como “depravados”, viciados em sexo e drogas, isolados em algum lugar (de um acampamento a uma cidade do interior) e caçados um a um por algum assassino mascarado, na maioria das vezes silencioso, brutal e imortal.
O Massacre da serra elétrica, A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Brinquedo Assassino, Halloween e outras franquias, com suas diversas continuações, cravaram no imaginário do cinema ocidental a ideia do slasher e seus elementos narrativos. Onda que no decorrer dos anos 80 e início dos anos 90 acabou estagnada, perdendo público, se tornando vítima dos próprios clichês e absurdos. Impossível esquecer Michael Myers sendo idolatrado por um culto celta em Halloween 6 e outras tosqueiras do tipo.
Mas é nos anos 90 que o sub-gênero sofre uma renovação, sendo um dos seus pontos mais altos a entrada da metalinguagem nos roteiros, com os filmes A Hora do Pesadelo 7 e Pânico.
Hora do Pesadelo, do diretor Wes Craven, uma das maiores e mais influentes franquias do estilo, tendo Freddy Krueger como vilão, fugia um pouco do convencional ao ter um assassino de boca aberta, com um humor sombrio e sarcástico, mas ainda mantinha inúmeros outros elementos do sub-gênero. Ela acabou não escapando da estagnação, porém as coisas mudaram em 1994, com o lançamento de Hora do Pesadelo 7 (o número é gritante, mas a qualidade do filme faz você ignorar isso). Abusando da metalinguagem, o filme tem como protagonista a atriz Heather Langenkamp, interpretando ela mesma, tal como na vida real, havia interpretado Nancy Thompson, protagonista do Hora do Pesadelo original, que está prestes a receber uma nova versão. Freddy invade o “mundo real”, brincando com a ideia dos roteiros serem visões de outro mundo, em certo momento da trama a protagonista se defende do vilão lendo o script do novo filme. Apesar da genialidade, o filme teve uma bilheteria morna, uma das piores da franquia.
Todavia, é ainda nos anos 90, especificamente em 1996, dois anos depois da Hora do Pesadelo 7, que Wes Craven, já experiente com a metalinguagem, lança sua obra prima, Pânico, com uma receita de 173 milhões de dólares, um recorde para filmes de terror. Estruturado com um forte subtexto metalinguístico, encabeçado em especial por Randy, fã de slasher e que durante o filme vai detalhando, um a um, os clichês do gênero. Traumatizada pelo aniversário de um ano do assassinato da sua mãe, Sidney Prescott é a protagonista do filme. Se vendo presa em meio a um massacre realizado por um assassino mascarado (seguindo as normas do slasher, pelo menos até o final), cuja marca, eternizada no cinema, é o hábito de ligar para suas vítimas antes de assassiná-las, dialogando de forma irônica e soltando a pergunta “Qual seu filme de terror favorito?”. A ironia é marca forte do filme, que ao brincar com os clichês do slasher se consagrou como um dos maiores filmes de terror de todos os tempos.
A Hora do pesadelo 7 e especialmente Pânico mudaram os rumos do terror, não só trazendo uma leva de meta-filmes, mas revigorando o slasher, ao criar uma atmosfera que seria copiada, expandida e modificada à exaustão nos anos seguintes.
João Pedro Nascimento Sousa
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