Meu Amigo Dahmer (Filme / 2017)

Título Original: My Friend Dahmer
Direção: Marc Meyers
Roteiro: Marc Meyers, Derf Backderf
Produção: Ibid Filmworks, Aperture Entertainment
Elenco: Ross Lynch, Alex Wolff, Anne Heche, Dallas Roberts, Vincent Kartheiser

Candidato a melhor filme em SITGES 2017, Meu Amigo Dahmer (My Friend Dahmer, 2017) é a adaptação do assustador quadrinho homônimo escrito e desenhado por Derf Backderf. A HQ foi citada pelo New York Times como uma das obras não-ficcionais mais relevantes da década e a crítica é extremamente válida.

Assim como no quadrinho (lançado no Brasil pela Darkside) o filme aborda a juventude de Jeffrey Dahmer, um dos serial killers mais famosos dos EUA. A história acontece primeiramente entre os anos 1974-77, focando sua maior parte no ano de 1978 O filme engloba, assim, os quatro anos de Dahmer na high school de Ohio até sua formatura - quando une suas frustrações familiares, sociais e sexuais em um ápice que culminou no primeiro assassinato, quando tinha apenas 18 anos.

Dahmer teria cometido, até sua prisão em 1991 e já com 31 anos, dezessete assassinatos envolvendo estupro, canibalismo, necrofilia e diversos testes de preservação e descarte de carne, órgãos e ossos humanos. No entanto, entre o primeiro e o segundo assassinato existem 9 anos de diferença, entremeados de diversos outros crimes de estupro e exibição pública; uma vez recomeçando a matar, em 1987, não parou novamente. No verão de 1991, seus intervalos eram de um assassinato por semana.

A HQ de Derf Backderf narra a história do estranho colega de escola antes de todos esses crimes, buscando encontrar alguma resposta para tamanhas atrocidades. O resultado é, ao mesmo tempo, uma catarse do autor, o estudo da mente de um psicopata e também, de certa forma, uma denúncia: aquele que se tornou um monstro antes teria sido vítima do descaso familiar e do bullying dos colegas, vivendo uma angústia elevada à potência frente à repressão de sua homossexualidade, mórbidos desejos ocultos e o alcoolismo desenvolvido em busca de um alívio.

O filme tem dois méritos: consegue adaptar visualmente muito bem a HQ, mantendo-se fiel no resultado estético, embora perdendo um tanto do expressionismo da arte desenhada; sem fugir muito do roteiro já disposto na obra original (mas acrescentando algumas situações e retirando outras), consegue humanizar ainda mais o personagem. As atuações de Ross Lynch no papel de Dahmer (ex-ator da Disney e músico teen) e de Alex Wolff como Backderf (também ex-ator da Disney) são convincentes e refletem bem tanto os personagens como os sentimentos complexos da juventude. O filme é permeado de outros grandes nomes que fazem valer muito bem seus curtos momentos em tela: Anne Heche e Dallas Roberts no papel dos pais de Dahmer, e notavelmente Vincent Kartheiser (conhecido pelo seriado Mad Men).

A fusão de um carro-chefe composto de atores jovens de pouca ou nenhuma incursão em papéis dramáticos pesados, com a direção também novata de Marc Meyers, poderia ter sido um trem descarrilhando. Mas a solidez da fonte - uma obra-prima dos quadrinhos de originalidade e beleza como poucas - segura o filme no chão e o impede de cair, deixando o foco sobrecair mais nos acertos do que nas falhas (a cinematografia de Daniel Katz é um espetáculo por si só). E, ainda que possuindo um tom menos assustador que a HQ e resumindo o final, existem detalhes durante a projeção que provocam um frio na espinha daqueles que conhecem os crimes de Dahmer em seus detalhes.