NÃO OLHE (2018)

Título Original: Look Away (EUA – 2018)
Direção: Assaf Bernstein
Roteiro: Assaf Bernstein.
Produção: Jacob Wasserman, Josh Mond, Antonio Campos e Schuyler Weiss.
Elenco: India Eisley, Jason Issacs, Mira Sorvino, Penelope Mitchell,John C. MacDonald,Harrison Gilbertson e Kristen Harris.
Duração: 103 min.

Sinopse: Uma solitária jovem de 18 anos não encontra suporte familiar e nem amigos para que possa desabafar sobre os problemas de sua vida. Cansada, ela começa a conversar com o próprio reflexo no espelho apenas para externalizar sua angústia, mas rapidamente descobre que está trocando de lugar com uma espécie de clone que tenta convencê-la a tomar atitudes vingativas.

O inicio do filme mostra um vídeo de uma ultrassonografia. Vemos um feto em desenvolvimento, que logo divide o espaço com outro. Quase que imediatamente vemos uma espécie de “luta” entre ambos. O filme corta então para a época atual e somos apresentados a Maria, personagem principal, protagonizada por India Eisley, uma adolescente que está prestes a completar 18 anos. À medida que o filme avança, percebemos que a vida de Maria não é um mar de flores. Ela não tem muita liberdade, seus pais não aparentam ter uma boa relação entre si, seu pai é dominador e distante, e socialmente ela é um fracasso: Maria tem pouquíssimos amigos, nunca teve namorado e tem uma admiração platônica pelo namorado de sua única amiga, sofre de bullying, principalmente por conta de um dos alunos, participante do time de hóquei, que a persegue e a humilha constantemente. Fuma escondido, se anula diante das pessoas. A única amiga, Lily, já a humilhou na infância, mas a mantém por perto para exibir suas conquistas, incluindo ai o namorado, com quem troca beijos e amassos na frente de Maria. O pai dela (Jason Isaacs atuando no automático) é um cirurgião plástico de sucesso, que idolatra a perfeição da beleza feminina (em uma das cenas, ele praticamente quer agradar a filha dizendo que vai dar a ela um presente – uma operação plástica que a tornaria bonita) e sai com várias pacientes. A mãe de Maria é interpretada por uma apagada Mira Sorvino (aqui nitidamente no filme para pagar suas contas...), é oprimida pelo marido com o marido distante, e deseja que a filha se torne uma pessoa mais sociável e com destaque.

Nesse contexto de sua vida, e com tantos problemas e humilhações acontecendo, Maria começa a perceber que seu reflexo adquire vida, e posteriormente, quando começa a dialogar com a imagem, que se chama Airam (o contrário de Maria), percebemos que a imagem pode ser um principio de esquizofrenia, que ela pode estar projetando no reflexo do espelho uma versão mais perversa, sexualizada, cínica, violenta, capaz de tomar decisões e agir de formas que Maria não poderia. Após um incidente no baile da escola, ela trocam de lugar psicologicamente. Maria fica por trás do espelho, observando, sem poder interferira, a sua metade maligna concretizando os seus desejos mais profundos.

Nesse meio tempo, ficamos sabendo de sonhos recorrentes da mãe de Maria, relacionados com um parto onde algo deu errado, fato que vai se revelando aos poucos e muda um pouco a percepção do que acontece no filme e cria certa dúvida.

"Não Olhe" é um suspense que carrega no drama e apresenta um viés mais psicológico, com algumas cenas violentas (mas não muito), sexo, e nudez frontal por parte da protagonista (caso essa cena não estivesse no filme, ele poderia até mesmo ser classificado como um passatempo adolescente típico da Sessão da Tarde). Por sinal o sexo tem mais relevância no filme do que a violência. A violência é comedida, acontece pontualmente, sem muito grafismo. Uma das cenas de maior impacto é quando a filha afronta seu pai no consultório, sendo uma sequência com uma forte conotação incestuosa e de abuso sexual.

O filme apresenta alguns problemas de narrativa que chegam a causar certo incomodo. A cena onde a mãe de Maria se encontra com a amante do marido tem um dialogo totalmente irreal, onde a amante fala, após um elogio a sua roupa, que a mesma é a que o dr. Dan mais gosta. A vingança de Airam contra o garoto que praticava bullying constante contra ela, onde ela quebra o joelho dele no banheiro com um taco de hóquei, não tem nenhuma repercussão na escola, simplesmente o personagem some, como se ele estivesse no filme apenas para ser o catalisador da libertação de Airam. Outros furos acontecem, mas sem grande impacto na narrativa. O diretor, Assaf Bernstein, não é criativo na condução da narrativa e os atores apresentam atuação mediana.

Com as revelações que ocorrem perto do final, ficamos com uma duvida se o que ocorre é um fenômeno sobrenatural, psicológico ou algo ligado à biologia, o que estaria ligado à cena inicial do filme. Embora tenha acenos de ousadia no roteiro, a condução da trama, e a falta de expressividade da protagonista contribuem para tornar o filme um mero passatempo, um filme sem relevância em meio a safra atual de produções voltados para o suspense/horror.