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STEPHEN KING - Especial 70 anos

 

O canadense David Cronenberg despontou nos anos 80 como um dos maiores diretores não apenas do gênero fantástico como do cinema mundial em todas as categorias. Invariavelmente encontram-se fãs do diretor entre aficionados do horror, cinéfilos de blockbuster e acadêmicos da área. Não é um feito comum agradar a tantos e em tantas vertentes; tampouco é corriqueiro agradar e entreter ao grande público em sua principal vertente da ficção, o sci-fi e o horror. Embora em suas principais obras Cronenberg caminhe por essas trilhas de um gosto peculiar – caminhos que sofrem de longa data com o preconceito cinematográfico – muito provavelmente sua fixação em personagens profundos e seu realismo dramático tenham tornado suas obras acessíveis ao gosto comum como poucos o conseguiram. Para além do “causar o horror” (no padrão oitentista rechaçado pelas academias de cinema mundo afora, o que contribuiu para a criação de toda uma cadeia de festivais de gênero à parte dos demais festivais), Cronenberg propunha o “pensar o horror”. Seus filmes dialogam a noção de corpo e a realidade químico-biológica humana em contraponto à subjetividade, consciência e percepção do indivíduo como tal. São obras tanto psicológicas quanto sociais, indo do micro ao macro em seus roteiros com muita facilidade e realizando esse passeio científico com brilho cinematográfico, pisando no terreno da arte sem fugir do contexto de entretenimento.



Em “Scanners – Sua Mente Pode Destruir” (1981), Cronenberg deu um passo crucial à frente de seus filmes predecessores. Embora este possua um tom abaixo da presença autoral que se observava em Calafrios (Shivers, 1975) e Enraivecida na Fúria do Sexo (Rabid, 1977), sua temática única e uma forte presença de tela do ator Michael Ironside tornou o filme um clássico instantâneo do cinema fantástico e foi a porta de passagem para a fixação do diretor nos poderes ocultos do cérebro. Esse novo interesse culminou em dois filmes essenciais no ano de 1983: sua obra autoral máxima, Videodrome, e uma das melhores adaptações já feitas da literatura de Stephen King para as telas: A Hora da Zona Morta (The Dead Zone).



Em A Hora da Zona Morta acompanhamos o personagem Johnny Smith, encarnado pelo ator Christopher Walken em um dos papéis mais relevantes de sua carreira. Johnny é um introspectivo professor de literatura que, após sofrer um acidente e passar cinco anos em coma, procura retomar sua vida em meio a tudo que o tempo perdido causou. Para completar seus problemas, algo ativou a zona morta de seu cérebro – aquela porcentagem de massa encefálica que os humanos não utilizam – fazendo com que ele tenha visões assertivas de passado, presente e futuro ao entrar em contato físico com as pessoas. Herbert Lom, no personagem do doutor que faz o tratamento de Johnny durante e após seu coma, afirma em certo momento não saber se estão lidando com “algo muito novo ou algo muito antigo”. E assim segue a história de Stephen King, entre ciência e ocultismo, sob um olhar muito intimista do personagem e seus conflitos morais, enquanto tenta ajudar os mais próximos com seus poderes de clarividência.




Perpassando três subplots ao longo de seus 102 minutos de projeção – O caso da investigação do assassino, o caso do time de hockey e o caso da campanha presidencial – a história culmina no ápice do próprio personagem, ao confrontar sua antítese de moralidade e introspecção no candidato Greg Stillson, interpretado de forma não menos brilhante por Martin Sheen. Essa dualidade foi planejada por Stephen King, que, em sua paixão por lidar com a infância dos personagens, apresenta um interessante epílogo prevendo os rumos de Johnny e Stillson muito antes deles se tornarem herói e vilão. Embora essa sequência não faça parte do filme, fica explícito que o poder de concisão do roteirista Jeffrey Boam acertou o alvo em seu tom e cadência, enfocando os momentos mais dramáticos e conferindo o ritmo de unicidade necessário à adaptação de uma obra literária longa e fragmentada – além de compactuar com um estilo mais apropriado à direção de Cronenberg, sem deixar de abordar os principais conceitos e tramas exploradas por King na história.



O filme é, principalmente, o drama poético de um homem à luz do inexplicável. Nenhuma definição além dessa pode explicar o quanto o filme, ainda hoje, funciona bem. Existe nele “algo muito novo ou algo muito antigo” que o torna atemporal.




Como um destaque à parte, a bela abertura é uma das mais memoráveis dos anos 80. Ela remete, junto à trilha sonora composta por Michael Kamen e às imagens do cenário idílico canadense, principalmente à fusão de gêneros própria da obra – pois se sobrepõe a tudo, pouco a pouco, a estética de um sci-fi moderno, deslumbrante e assustador, conforme entrevemos o title design de Wayne Fitzgerald. Além de ser um dos melhores designers do cinema (ainda mais prolífico nessa área do que o mestre Saul Bass), ele atinge a jugular com os créditos iniciais de a Hora da Zona Morta: é um festim para os olhos, o laço do presente que é o filme como um todo.



 


Trailer: 
 


Saul Mendez Filho para o Gore Bahia, 11/08/2017

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| 997 | 13/07/2018
Especial 70 anos de Stephen King Domingo, 22 de Outubro Sala de Cinema Walter da Silveira Salvador – BA
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