TITULO ORIGINAL: 13 Exorcismos | 2022 | Espanha
DIREÇAO: Jacobo Martínez
ELENCO: María Romanillos, Ruth Díaz, Urko Olazabal, José Sacristán, Pablo Revuelta, Silma López, Daniel Arias, Alícia Falcó, Uri Guitart, Cristina Castaño.
ROTEIRO: Ramón Campos, Gema R. Neira.
DURAÇÃO: 100 minutos
DISTRIBUIÇÃO: Diamond Films
SINOPSE: A adolescente Laura (María Romanillos) vive em uma criação rigorosa, exacerbadamente religiosa, claustrofóbica e paranoica, sobretudo por parte de sua mãe, onde tudo está associado ao castigo, ao maligno e a culpa, além disso ela se vê diante das descobertas e dilemas da adolescência. Após aceitar o convite para uma simples festa na noite dos mortos (halloween) a transgressão dos seus colegas a colocará em uma sessão de invocação de espíritos, onde a partir de então forças demoníacas passarão a atormenta-la. Não obstante, a jovem também sofre bullying, assédios morais e toda sorte de chacotas no ambiente escolar, o que potencializa ainda mais seu drama existencial. O Padre Olmedo (José Sacristán) recém-chegado na paroquia local percebe que algo atormentador persegue a adolescente e se propõe a liberta-la nessa batalha entre o bem e o mal, onde o limite de 13 Exorcismos inevitavelmente representará a vitória das trevas.
RESENHA:
Assumi o desafio de tentar confrontar as ferozes críticas sobre 13 Exorcismos. Depois de vê-lo sendo detonado das mais variadas formas possíveis, decidi conferir a obra no UCI Orient Shopping da Bahia, retornando no dia seguinte para o repeteco, tira-teima e demais impressões...
Importante destacar que o filme traz elementos os quais merecem análise mais profunda, que para o mero expectador ávido pelo terror e a atmosfera característica desse tipo de produção, pode passar despercebido, desprezando a relevância de tais temas, inclusive na construção e desenvolvimento da trama que apesar das falhas consegue de alguma forma salvar a narrativa em torno do exorcismo.
Tendo como eixo central a história da jovem Laura Villegas, que sofre com os dilemas e transformações característicos da adolescência, em paralelo a vida obscurantista e fantasmagórica alimentada por sua mãe, uma beata católica completamente complexada com os desígnios da vida, os quais atribui ao castigo divino. A personagem Laura, tem ainda no seio familiar a triste lembrança do seu irmãozinho que morreu aos 08 anos, o seu irmão mais velho e paraplégico, além do pai completamente passivo diante dos devaneios da esposa, mãe da personagem principal.
Apesar dos sucessivos equívocos na abordagem, sobretudo no que diz respeito a fé e religiosidade, confesso que em dado momento o filme assume mais a característica de drama do que propriamente de terror ou suspense ao qual se propõe, tendo como ponto central as angustias, expectativas e frustrações da jovem Laura, o que em alguns momentos traz considerável desconforto, sobretudo nas cenas que envolvem bullying e assedio sofridos pela jovem no ambiente escolar, provocando no expectador sentimento de revolta e impotência.
Importante destacar que a temática, ainda que timidamente e com os equívocos já supracitados, nos remete ao debate entre ciência e fé, sabedoria e senso comum, quando traz a relação da personagem principal com a psicóloga da escola, Lola (Silma López), uma mulher totalmente cética e descrente em contraposição ao papel de Olmedo (José Sacristán), o padre exorcista. Ambos imbuídos na difícil missão de libertar a jovem Laura dos seus tormentos, em planos distintos.
Outro ponto que merece singular destaque é a relação da família com a morte, os desígnios da vida e o sobrenatural, com especial destaque para o pai da Laura e o sofrimento do mesmo diante dos dilemas interpostos.
PONTOS CRÍTICOS:
Vamos então! Sabe aquela história, “tenho uma boa e uma má notícia para dar”? Começando pelos pontos mais falhos e negativos da obra, 13 Exorcismos definitivamente é um filme mediano dentro da perspectiva do terror/suspense e nos leva a reflexão se de fato haveria a temática exorcismo chegado ao colapso da sua originalidade.
Temos a priori uma “história boba”, inocente, de uma invocação de espíritos em uma casa abandonada, palco de um crime hediondo ocorrido no passado atribuído a possessão demoníaca, nessa casa estão alguns adolescentes e a jovem Laura Villegas, com todas as características já anteriormente descritas, obviamente, para espanto de ninguém o “dito cujo” do espirito maligno incorpora justamente na jovem Laura.
A seguir o que podemos observar no filme é que o aludido espirito assobiador parece atormentar a personagem principal em todo canto (e “em todo lugar ao mesmo tempo”!), na sala de aula, no banheiro, no quarto (“na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê”...), até dentro do confessionário da igreja, enfim.
A perseguição maligna contra a jovem Laura é tão desassociada de proposito e aleatória que chega a ser irritante. Até o dado momento que o espirito perturbador incorpora na jovem e essa comete uma determinada atrocidade (possivelmente um crime) dando espaço a uma das inúmeras falhas existentes no roteiro. Em decorrência dessa possessão/surto a mesma desmaia na frente dos colegas e acaba sendo hospitalizada. Daí em diante a “bagaceira” começa!
O filme peca absurdamente pela forma clichê e por vezes caricatural como trata o “fenômeno da possessão”, valendo-se de uma entidade que por vezes parece mais um “gafanhoto endemoniado”, com passagens soltas, imerso em um embate duvidoso e nada convincente entre as forças do bem e do mal, onde para terminar de piorar, a atuação “morna” do Padre Olmedo (José Sacristán), acaba sendo mais do mesmo: o padre vestido de preto autorizado pela Santa Sé para realizar os atos de exorcismos e com isso libertar a jovem adolescente possuída (o clássico estereótipo).
A sensação que o filme deixa é de que os temas transversalmente abordados (bullying, assédio moral, fanatismo religioso, ciência x fé, dilemas existenciais, adolescência, enfim...) possuem incomparável valoração temática e agrega muito mais ao roteiro do que a tentativa malograda de se conceber um filme sobre exorcismo.
Por fim, o trágico (e previsível) desfecho da história consagra de forma mais notória essa percepção de haver um robusto horizonte de possibilidades, diante de todos os elementos dispostos na narrativa, que poderiam ser explorados, mas que acabou se diminuindo em torno da temática proposta.
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