Candyman, EUA, 2021
Direção: Nia DaCosta
Roteiro Jordan Peele, Win Rosenfeld
Elenco: Yahya Abdul-Mateen II, Teyonah Parris, Nathan Stewart-Jarrett
Candyman é sobre trauma, um trauma histórico e coletivo. No filme original acompanhamos Helen Lyle produzindo uma tese focada na lenda urbana do Candyman um assassino sobrenatural que ataca suas vítimas após ser invocado dizendo seu nome cinco vezes no espelho. Ao longo da trama vemos como o assassino na verdade é uma resposta mitológica para o problema da exclusão social e a violência urbana, para os moradores de Cabrini-Green o mito se mistura com a realidade e o misterioso assassino é responsável por todos os crimes sem soluções. Na metade do filme a criatura se apresenta, levando nossa protagonista a um estado de loucura no qual realidade e ficção se misturam.
A versão atual consegue passar uma mensagem similar, mais clara e atual, porém com problemas em amarrar as pontas do filme e em manter um tom coeso até o final.
Em “A Lenda de Candyman” acompanhamos AnthonyMcCoy, um artista passando por um bloqueio criativo que após escutar uma história de horror de seu cunhado, decide pesquisar sobre a morte de uma mulher branca no complexo habitacional de Cabrini-Green. Durante sua pesquisa ele encontra um antigo do morador do complexo que conta sobre a lenda de Candyman. Que para nossa surpresa, se trata de uma origem diferente do filme de 92 e nos apresenta um dos principais temas do filme: A herança da violência étnica nos Estados Unidos. A partir desse encontro Anthony começa a ser afetado de maneira similar à de Helen, se sentindo constantemente perseguido e sofrendo alucinações que o fazem questionar a realidade.
Ao decorrer do filme vemos como a arte tem um papel importantíssimo no registro histórico, pois é a partir de sua arte que Anthony resgata e repopulariza a lenda do assassino sobrenatural. A linguagem artística transcende a narrativa e passa a experiência de seus personagens de maneira perfeita para o público. Os enquadramentos são extremamente claustrofóbicos, aumentando a carga emocional das cenas por conta da sensação de proximidade e fazendo com que as atuações se destaquem, por não oferecer chance de distração. Outro destaque da direção foi a interação do telespectador com a obra, devido a sensação de perseguição do Anthony nós que assistimos somos colocados como razão de sua paranoia, algo similar a um stalker ou um predador.
A Lenda de Candyman respeita muito o original, a formula que tantou agradou no original é atualizada para uma nova geração que infelizmente vive problemas similares. A participação de Jordan Peele na produção do projeto é marcada pelo tom ativista e na representatividade das personagens, nos trazendo facetas de uma população urbana crível e diversa. Porém, mesmo com tantos acertoso filme possui sérios problemas em seu último arco.
O tom do filme muda drasticamente com uma subtrama que surge sem mais nem menos e quebra a lógica que o filme vinha trabalhando, fazendo o telespectador entrar em confusão com conceitos previamente apresentados no mesmo filme.A falta de cenas explicitas deixa um sentimento amargo ao decorrer do filme, boa parte das mortes são vistas a distância ou com algum empecilho em tela.Eum dos aspectos da narrativa é prejudicado pelo sentimento de predição que surge na reta final, devido a uma relação desnecessária com o filme de 92. Só que estes erros não sobrepujam a experiência prazerosa e marcante apresentada previamente no filme.
Com uma direção criativa e casting surpreendente, o filme se torna uma agradável surpresa e consegue entregar uma dose de tensão que há muito tempo não se via no cinema.