Título original: A Haunting in Venice, EUA, 2023.
Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Michael Green
Elenco: Kenneth Branagh, Michelle Yeoh, Jamie Dornan, Tina Fey, Kyle Allen, Camille Cottin, Jude Hill.
Duração: 1 h 43 min
Sinopse: Em Veneza, após o fim da Segunda Guerra Mundial, o detetive Hercule Poirot é convidado por uma velha amiga a presenciar uma sessão espírita em pleno Halloween. Porém, quando um dos convidados é assassinado, cabe a Poirot sair de seu exílio e encontrar o assassino em meio aos escuros e misteriosos corredores de um imenso “Palazzo”.
A Noite das Bruxas é o terceiro volume de uma trilogia que adapta romances da aclamada autora de suspense Agatha Christie. Desta vez, trazendo "Hallowe'emParty" sob a visão de Kenneth Branagh (que também dá vida ao icônico Hercule Poirot), a obra se sai muito bem, apesar de alguns exageros pontuais.
A história se passa em Veneza, que havia acabado de vivenciar o fim da Segunda Guerra Mundial, algo que parece trazer alívio a Hercule Poirot, ao mesmo tempo em que o lembra de experiências traumatizantes. Isso é transmitido de forma discreta, mas eficaz, por Kenneth Branagh.
Uma antiga amiga de Poirot, a romancista Ariadne Oliver (Tina Fey), o convida para participar de uma "sessão espírita" na casa de Rowena Drake (Kelly Reilly), que deseja entrar em contato com sua falecida filha. No entanto, um dos convidados é assassinado, e cabe ao relutante Hercule Poirot suspender sua aposentadoria auto-imposta para solucionar o mistério.
Passando aos aspectos técnicos, pouco chama a atenção negativamente, exceto pelas cores acinzentadas no início do filme, que poderiam se beneficiar de um pouco mais de saturação para valorizar a arquitetura de Veneza. Isso muda quando o "Palazzo" se torna o cenário principal.
O esforço e estudo para criar uma atmosfera de suspense e estimular a imaginação da audiência são perceptíveis. A iluminação impecável é complementada por ótimas escolhas de filtros e coloração. O ambiente é escuro, permitindo que a imaginação flua sobre o que se passa nos corredores e salões, sem nunca deixar a cena incompreensível, uma armadilha infelizmente comum no cinema contemporâneo, especialmente no terror e no suspense.
O jogo de câmeras é essencial para uma história tão expressiva e, felizmente, em A Noite das Bruxas, isso é bem utilizado, agregando à narrativa e dando espaço para que os personagens tenham momentos bastante expressivos, até mesmo de introspecção.
No que diz respeito ao enredo, não há muito a se dizer sobre a narrativa central. Trata-se de uma boa e sólida história de suspense, com narrativa bem amarrada que aproveita muito bem o espaço, explorando a atmosfera assustadora da casa e brincando com elementos sobrenaturais que são deixados propositalmente ambíguos. Essa segunda camada de mistério é talvez o ponto mais forte e único do filme em relação aos anteriores.
O grupo de personagens possui personalidades distintas que se complementam, desde o humor de cada um até a maneira como lidam com a situação, algo indispensável para um filme de assassinato. A maior parte das escolhas de elenco certamente contribui para isso, com destaque especial para Michelle Yeoh como Mrs. Reynolds, Emma Laird como Desdemona e Kelly Reilly como Rowena. Infelizmente, Tina Fey parece destoar bastante dessas escolhas, com o tipo de humor e finesse de sua personagem não casando bem com as marcas pelas quais a atriz é conhecida.
Ocasionalmente, alguns diálogos se mostram mais dramáticos que a média do filme, principalmente quando se trata de Poirot, algo que pode fazer com que os fãs dos romances torçam o nariz. No entanto, nada disso prejudica o roteiro, que possui uma duração satisfatória, com nenhum ato parecendo apressado ou arrastado demais, sinais de uma direção sólida e roteiro bem amarrado.
A Noite das Bruxas definitivamente não é o melhor ponto de entrada na antologia para alguém que deseja conhecer o universo apresentado, com seus aspectos mais fortes funcionando melhor após se ter o contraste com os filmes anteriores. No entanto, isso não impede que seja um filme divertido, envolvente e que não se prolonga além do necessário.
Lovecraft: Re-imaginado é uma antologia que reúne 18 contos baseados na obra original de H. P. Lovecraft. Nela você encontrará releituras, expansões do universo lovecraftiano e até mesmo continuações de histórias marcantes do autor.