Autor: Ian Fraser.
Editora: Intrínseca.
Páginas:304.
Existe o jargão “o brasileiro só não domina o mundo porque não quer”, que referencia o fato do povo brasileiro ser um ás na arte da gambiarra. Já o autor Ian Fraser foi além, em seu romance “A Vida e as Mortes de Severino Olho de Dendê” o Brasil dominou a galáxia. Mas, a principal região a se propagar intergalaticamente foi a soteropolitana. A partir de uma tecnologia de dobra espacial à base de dendê, a cultura dos orixás, do acarajé e do axé se tornou a principal cultura humana nos cosmos.
Na trama acompanhamos Severino Olho de Dendê, que junto com seu amigo Bonfim (um alien coberto de fitinhas de Senhor do Bonfim) atuam como detetives particulares e constantemente visitam botecos ou participam de gandaias. Porém, Severino tem um poder que o diferencia de todos os outros detetives da galáxia, seu olho permite que ele veja os momentos finais da vítima de qualquer crime. Ferramenta que se faz útil e traz um lembrete ao nosso protagonista, que vive tanto entre os vivos quanto entre os mortos. Além de nossa dupla inicial, e extremamente carismática, temos Antonieta, uma capivara geneticamente modificada que além de uma leitora voraz é também uma agente da grande Federação Setentrional. E para finalizar, temos Filomena e Juá, a primeira é a salvaguarda de uma ordem chamada “Paladinas do Sertão” e a segunda é uma carranca robótica que atua na mesma ordem. Um grupo bem diverso e inusitado, mas adequado para a história.
Fraser trabalha muito bem a imersão, desde o dialeto soteropolitano, que está muito bem realizado, até as versões tecnológicas de armas e festas regionais. Aqui os personagens falam “barril”, “oxe” e “meu rei”, tornando a leitura bem familiar para o público soteropolitano. Enquanto as armas são versões futuristas de peixeiras, facões e armas de fogo similares aos rifles e pistolas da época do cangaço. Além disso, temos capítulos que se passam em um cruzeiro espacial com temática do Festival de Parintins e no aniversário de Salvador.
Além da trama, outro aspecto que faz o livro brilhar é seu design. Recheado de xilogravuras, cordéis introduzindo cada capítulo e colocando letras de músicas em destaque tanto no texto quanto na página em si torna Severino um dos livros mais charmosos de sua estante.
A jornada de nossos personagens prende o leitor do início ao fim, já que as interações entre eles são uns dos pontos mais altos do livro. Aqui vemos antigas paixões, busca por identidade e camaradagem ao melhor estilo “anos 80”. Porém, o único momento que o livro freia é em sua reta final. A inserção de um novo personagem com pouco tempo para desenvolvê-lo faz com que nós leitores o enxerguemos como um estranho, além de que o plano final carece de peso. Mas, o final não amarga a obra como um todo e ainda deixa um gostinho de quero mais desse criativo universo. A Vida e as Mortes de Severino Olho de Dendê é uma ótima recomendação para os fãs de ficção científica e coloca a ancestral cultura nordestina em foco, algo que traz um frescor para um meio dominado por ideias estrangeiras.
Onde Comprar:
O livro pode ser adquirido na Amazon e visite o Intrínseca para saber mais sobre o autor e outras plataformas de venda.
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