AS 110 PÍLULAS

Autor: Magnus.

Páginas: 80.

Editora: Tai Editora.

Na obra “O Banquete”, Platão reconta um episódio onde seu mestre Sócrates está discutindo a natureza do amor. Durante a discussão, Aristófanes traz a perspectiva de que o amor é a busca pela metade perdida, um ato de complementação. Já Sócrates, traz a perspectiva de que amamos o que nos falta. Já que o amor é desejado, e não se deseja algo que já se possui. Em “As 110 Pílulas”, Magnus traz uma perspectiva similar à de Sócrates, mas direciona a narrativa para as consequências extremas do ato de se desejar. A obra explora como o amor pode ser um instrumento de dominação, como a riqueza material deturpa a ideia de um ser livre e alerta sobre a busca incansável do hedonismo. Em suma, Magnus entrega uma fábula pornográfica que consegue alinhar narrativa e arte de maneira primorosa. 

Inspirado por romances eróticos chineses, Magnus nos apresenta a história de Hsi Men, um grande comerciante farmacêutico e importante pilar da comunidade local. Hsi se apresenta como um homem carismático, culto, dotado de grande fortuna e beleza. Possui uma grande propriedade, com muitos servos e 5 esposas. Em uma de suas reuniões com seus amigos, que compartilham dos mesmos status, escuta uma história sobre um monge que possuía um poderoso afrodisíaco. Como uma armadilha do destino, Hsi Men encontra um monge na beira da estrada e o questiona sobre tal afrodisíaco. Para surpresa do protagonista, o monge lhe vende 110 pílulas e promete que elas entregarão o que o comerciante deseja. Mas, lhe deixa com um aviso: nunca mais do que uma, e uma a cada lua.

As pílulas fazem com que o protagonista se torne um avatar de Eros, visitando suas esposas e as dominando com uma luxúria pulsante e quase sobrenatural. Mas, as palavras do monge logo são esquecidas e Hsi Men começa a tomá-las indiscriminadamente. É aqui que começa a sua perdição, pois o protagonista se torna escravo de seus desejos e constantemente abusa de sua posição para dobrar o desejo dos outros. O texto de Magnus é tão engajante quanto sua arte, que apresenta personagens carismáticos e anatomicamente críveis. Tanto Hsi Men quanto suas esposas são desenhados de forma magistral, conseguindo dar a sensação de movimento e tesão nas cenas de sexo explícito. Estas que não poupam detalhes e se apresentam de formas criativas, dignas de uma versão ilustrada do Kama Sutra.

As 110 Pílulas é um registro sobre como o desejo pode escravizar o ser humano e como a queda pode vir tão rápido quanto o auge. Não à toa, a chamei de fábula erótica. Além disso, o acabamento gráfico da Tai traz um ar de luxo ao quadrinho e faz com que ele se destaque na estante. Além da história, a obra possui um texto introdutório muito bem escrito pelo Rodrigo Viegas, que apresenta muito bem o autor e o contexto da obra.

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