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BETINA VLAD E O CASTELO DA NOITE ETERNA

Por: Hilda Lopes Pontes

Quando a maioria dos autores joga muda, rompe e/ou transgrede histórias canônicas, o resultado nem sempre é êxitoso. Obviamente que mexer com criaturas, seres, histórias que são conhecidas há séculos não é um trabalho fácil e, certamente, o autor pode cair em certas ingenuidades, tramas cheias de empáfia ou algo parecido. Por essa razão, O Castelo da Noite Eterna, ficou na estante por um tempo, havia certo receio de ler essa obra que traz como protagonista Betina, filha do Drácula.


Nessa quarentena, resolvi dar uma chance ao livro e me surpreendi positivamente. De fato, uma certa maneira forçada, inicialmente, de trazer algumas das criaturas clássicas para serem citadas como já conhecidos pela protagonista. Betina é fã dos monstros da Universal e assiste muitas vezes os longas durante a madrugada. Aos poucos, essas referências vão se tornando mais fluidas e o autor encontra uma maneira de descrever esses seres de um imaginário coletivo de uma forma mais orgânica.


De qualquer maneira, passado esse estranhamento, o livro se torna muito mais do que referência aos clássicos. MCT consegue criar uma protagonista potente, que não é nem um pouco genérica. Sim, ela cai um pouco no clichê da adolescente gótica trevosa que sente que não se encaixa no lugar onde vive. Mas, aos poucos, o leitor vai percebendo que ela é mais que isso, isso, ao mesmo tempo que Betina também está se descobrindo, dando, talvez, um sentimento em parte simbiótico com ela, fazendo crescer as sensações de imersão na trama.


Aliás, o livro de quase 300 páginas, passa rapidamente. Por um lado, o autor não tem pressa para jogar de vez todas as informações. Pacientemente, vai instigando o leitor a adentrar no novo universo da personagem título. Ao mesmo tempo, os capítulos curtos e concisos, não têm enrolações ou certas descrições pomposas como vemos em alguns escritores que tentam emular uma prosódia do século XIX, por exemplo. Pode-se construir na mente detalhes dos acontecimentos, dos espaços, das sensações porque Douglas é certeiro em seus adjetivos, detalhista sem exageros.


Outro ponto a se enaltecer é a construção das personagens. Desde os habitantes da cidade natal de Betina, Cruz Credo até os professores e dissentes do Castelo da Noite Eterna, temos seres complexos e distintos, ainda que suas personalidades sejam simples. O destaque, com certeza, vai para Tafari Mashaba, a madame Vodu, ela desperta uma empatia e confiança instantânea no leitor, ainda que deixe muitos mistérios sobre sua vida. Esses mistérios não são partículas mal contadas e sim possíveis pistas para um desenvolvimento posterior.


Algo que acontece com frequência na obra são as pistas e recompensas. Há um aparente interesse de surpreender que está lendo, contudo, não há uma traição, uma busca por esconder o mistério para depois haver um grande plot twist. A história vai pacientemente, dando peças do quebra cabeça, algumas pessoas podem entender antes outra depois, mas, o fato é que, mais importante do que adivinhar o vilão é a imersão do bem construído universo, onde o passado pode ser mais instigante do que o futuro das personagens. É difícil não se apegar a eles e não ter certa curiosidade para saber mais sobre suas vivências anteriores à trama.


Se tivesse que apontar algo que poderia ser melhor desenvolvido são as costuras de algumas ações para outra. Por exemplo, ainda que no geral se entenda, quando há o embate entre Betina e Mina, há uma mudança abrupta de ação. Mina está batendo muito em Betina e quando ela percebe que a garota não foi lá enfrenta-la, desiste de machucá-la. Contudo, parece um estalo, algo de sobressalto que poderia ser melhor descrito para visualização do leitor. Isso acontece algumas poucas vezes.


Betina Vlad e O Castelo da Noite Eterna foi uma grata surpresa, uma literatura de qualidade que não se apoia em maneirismos linguísticos, nem tenta desesperadamente ser descolado. A obra consegue equilibra uma boa escrita com uma linguagem acessível para crianças e adolescentes, uma boa maneira para conhecer e reconhecer personagens icônicas e de se divertir de maneira genuína.


Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna
Autor: Douglas MCT.
Editora: AVEC
296 páginas


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AVEC Editora

Resenhas
https://www.cinehorror.com.br/resenhas/betina-vlad-e-o-castelo-da-noite-eterna?id=592
| 805 | 11/06/2020
Uma grata surpresa, uma literatura de qualidade que não se apoia em maneirismos linguísticos, nem tenta desesperadamente ser descolado.
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