Autor: Clive Barker
Editora: Darkside Books
Páginas: 112
Ano: 2019
“Vão dizer que as suas dúvidas derramaram sangue inocente. Mas eu me pergunto: para que serve o sangue, senão para ser derramado?”
É impossível ler "Candyman" sem gerar comparações à obra cinematográfica, "O Mistério de Candyman", dirigido por Bernard Rose, o primeiro de dois que mais tarde iriam se suceder, "Candyman 2: A Vingança", e "Candyman 3: Dia dos Mortos".
O livro Candyman, de Clive Barker, originalmente como o conto “The Forbidden”, publicado em 1985, composto no “Books of Blood”, traz a existência de uma lenda urbana que se sustenta na crença da sociedade. Propondo uma realidade expandida, onde por mais que estejam ligados a um mito, os acontecimentos são trazidos como um horror cotidiano, fruto da violência ao qual estamos suscetíveis todo o tempo.
O livro se inicia contando a história de Helen Buchanan, uma universitária que está desenvolvendo uma tese sobre pichações em locais públicos, e a semiótica do desespero urbano. Escolhendo como cenário perfeito o conjunto habitacional da Spector Street, que serviria como modelo projetual para as futuras construções, mas que, devida a sua deterioração e marginalização foi esquecida. Os moradores lidam com a desumanização através da ausência dos seus direitos, ficando sujeitos as mais diversas situações de violência, sem a interferência policial.
As dificuldades e acontecimentos inesperados na vida de Helen parecem ser o foco da narrativa, mas aos poucos vão sendo introduzidas as tensões sobre a existência de Candyman e a sua onda de assassinatos. A narrativa se torna frenética e imersiva a medida que vão surgindo os mistérios por trás da lenda urbana e da conspiração que a envolve.
Candyman, até o final do livro tem sua presença marcada por sutis elementos, a pintura aterrorizante do seu rosto em um cômodo de uma casa abandonada, frases pichadas que além de indicar a sua existência, soam com um tom ameaçador “doces para um doce” e os assassinatos sem explicações. Candyman está lá, você sabe, mas somente no final ele surge para concretizar a sua existência, e mostrar para Helen a importância de se acreditar nas lendas urbanas, tentando seduzi-la a se tornar também uma lenda ao ser a sua vítima.
Ao ser transferido para as telas, houve mudanças significativas que trouxeram mais ênfase a questões raciais e a marginalização dos negros e pobres, há também a jornada do herói cumprida por Helen, onde a personagem se redime às acusações feitas e uma passagem que conta melhor a história de Candyman, aprofundando um pouco em sua origem, coisa que não ocorre no livro. Sendo bem direto, Candyman existe, e ao duvidar da sua existência ele é invocado. No filme ainda traz uma relação maior com outras lendas urbanas como a loira do banheiro ou Blood Mary, em que você precisa dizer o nome dele cinco vezes em frente a um espelho, trazendo uma dualidade e reforçando a sua característica como lenda.
Clive Barker, além de ciar um personagem icônico, sedutor e temido, explorou problemas sociais aos quais nos passam despercebidos. A degradação da sociedade e a origem dos seus medos, isso inteirado a um terror sombrio e estimulante. Mostra também que mesmo com outros meios, a comunicação oral continua sendo a melhor forma de manter ainda viva a cultura dos contos e lendas.
Onde comprar:
Necron não é uma obra indicada para menores de 18 anos nem para quem tem um humor limitado por uma moral conservadora, aqui o leitor encontrará sexo, violênica, tabus.