Disforia, 2020, Brasil
Direção: Lucas Cassales
Roteiro: Lucas Cassales e Thiago Wodarski
Elenco: Isabella Lima, Rafel Sieg, Vinícius Ferreira, Janaína Kremer e Ida Celina Weber
Duração: 98 minutos
Sinopse: Dário sofre com a dificuldade para se recuperar de um acontecimento assustador de seu passado. Ao se aproximar da pequena paciente Sofia, memórias de um trauma são despertadas. Atormentado, ele precisa encarar o seu passado e o mistério envolvendo a família de Sofia.
Após rodar o circuito de festivais em 2019 (sua premiere foi na competitiva de longas gaúchos do Festival de Gramado), Disforia tem nesse mês de março a sua estreia nacional e é mais uma obra de horror psicológico, subgênero muito frutífero nesse atual momento do cinema brasileiro.
Disforia aposta mais em criar uma ambientação de mistério do que em simplesmente dar sustos no espectador, e uma série de elementos são alinhados para criar essa sensação. A direção de arte e figurino privilegiam tons mais frios e fechados, e os próprios personagens agem de forma mais contida, fria, sem calor humano. A única exceção são alguns poucos momentos registrados em vídeos caseiros da relação entre os pais da Sofia (Isabella Lima), evocando um passado mais feliz do que o presente em que habitam agora.
Tais decisões sem dúvida são conscientes e ajudam a dar uma cara ao filme - mas, ao mesmo tempo, elas contaminam o seu ritmo. Do início ao fim, Disforia mantém o seu desenrolar cauteloso sem nunca empolgar ou mesmo capturar o interesse de forma definitiva. É um filme morno, por assim dizer. E algumas escolhas dos roteiristas reforçam ainda mais essa percepção: Dário (Rafael Sieg) é um protagonista passivo demais. Ainda que certa letargia seja justificável no roteiro pelos seus traumas passados, ele é pouco ativo na trama, sendo apenas empurrado na direção certa por fatores externos. Isso causa uma desconexão entre quem está assistindo e o personagem.
Mas mesmo com esses problemas, por ter um aspecto pouco expositivo e um tanto lacônico (exceto por uma passagem durante o clímax), o filme parece querer mais dar as peças do que efetivamente montar o quebra-cabeças. E isso é algo que certamente gerará conversas após a sua conclusão, inclusive leituras pelo viés da psicologia. E em um mundo onde tantas obras são esquecidas logo após o seu término, ficar remoendo e pensando num filme acaba sendo uma prova de seus méritos.
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