Título Original: Doctor Sleep (EUA, 2019)
Direção: Mike Flanagan
Roteiro: Mike Flanagan
Produção: Trevor Macy, Jon Berg, Roy Lee, Akiva Goldsman
Elenco: Ewan McGregor, Kyliegh Curran, Rebecca Ferguson.
Duração: 2h32m
Sinopse: Na infância, Danny Torrance conseguiu sobreviver a uma tentativa de homicídio por parte do pai, um escritor perturbado por espíritos malignos do Hotel Overlook. Danny cresceu e agora é um adulto traumatizado e alcoólatra. Sem residência fixa, ele se estabelece em uma pequena cidade, onde consegue um emprego no hospital local. Mas a paz de Danny está com os dias contados a partir de quando cria um vínculo telepático com Abra, uma menina com poderes tão fortes quanto aqueles que bloqueia dentro de si.
A história apresenta uma recapitulação dos últimos eventos, mostrados no filme "O Iluminado" (dirigido por Stanley Kubrick em 1980), dando um jump forward para nos apresentar Abra (Kyliegh Curran) e Dan (Ewan McGregor) em sua idade adulta. A densidade narrativa é presente e entretém. Apesar do uso surpresa de alguns sons mais altos, o filme não se atém ao jump scare. Se aproveita dos elementos de horror construídos mostrando bem os seus monstros, cenários e personagens. Suscita a tensão em aspectos mais simples como o ruído de uma porta que se abre acompanhada de um enquadramento em full screen da mesma.
A interpretação que se destaca certamente é de Kyliegh alternando entre o sofrimento, frieza, alegria, demonstra as sutilezas do comportamento infantil adequadamente como também ressalta o brilhantismo da atriz em exercer e sustentar a narrativa do início ao fim. Espero vê-la em muitos trabalhos do gênero ou qualquer outro pela qual ela se interesse em breve.
Um dos pontos altos da narrativa é que se aponta uma crítica ao uso de tecnologia, apresentando uma possível relação de entorpecimento e enfraquecimento da luz das pessoas. Se levarmos tal aspecto em consideração, é possível perceber que milhares de pessoas tem perdido a sua identidade simplesmente por estarem presas a reprodução comportamental de massa, movida cegamente para uma ausência de propósito. Poucas entendem de fato seus reais objetivos, poucas falam de sonhos. A maioria está presa numa série de obrigações e o grande local dos despejos de dejetos se encontra nas redes sociais.
As pessoas estão próximas mas estão sozinhas em seus microuniversos direcionados. Se ao olhar para o mundo real algo foge de sua regra particular, ela retorna para a tela, emana e recebe a resposta de que está tudo bem. E assim ela segue, alheia para o novo mundo, fragmentada. As pessoas não se encontram mais pessoalmente pois estão ocupadas com fonte de lazer individual sendo assim desvinculada da interação social plural. A luz que as pessoas emanam é artificial porque a preocupação maior está com o efeito do que com a causa de suas ações.
A direção e o roteiro assumem um ritmo favorável para a dramatização da história situando o espectador e favorece o envolvimento a cada nova parte. O filme se encerra leve da mesma forma que iniciou. É nostálgico, forte, preserva enquadramentos e movimentações de câmera adequadas ao ritmo da montagem e transições, deixando o espectador favorável a fruição.