Estranha Bahia é uma coletânea de contos de terror, fantasia e ficção científica. Publicada originalmente em 2016, foi finalista do prêmio Argos, em 2017. Agora em 2019, ganha uma 2ª edição. Livro de 7 contos fantásticos escrito por 7 autores. Apresentam características próprias e o único aspecto comum entre todos é que os eventos ocorrem na Bahia.
Raças de Ricardo Santos
Um conto policial cyberpunk bem desenvolvido com desdobramento de eventos bem elaborados e desfecho neutro. Os personagens são apresentados adequadamente e é divertido percorrer a história. Senti falta de alguns elementos para criar uma imersão nessa salvador futurista. De maneira geral o conto é bem escrito e vale dedicar o tempo.
Canudos XXI de Isabelle Neves
Ao ler a história senti uma grande necessidade de vê-la ilustrada. Ela merece uma graphic novel assim como Raças. O tom deste conto é sóbrio e pesaroso assim como o sertão. O equilíbrio dos atos se faz presente. A história explora a incompreensão e a fragilidade humana diante de grandes questões da vida.
Joel das Almas de Evelyn Postali
Confesso que o início deste conto não me empolgou principalmente porque ele se estendeu demais no passado e deu pouco tempo para o desfecho do ato tornando a experiência final da leitura desagradável. A história em si tem potencial mas precisaria de mais páginas para um desfecho digno. Tal fato soma-se ao ritmo da narrativa que ficou confuso.
Profeta 666 de Tarcísio J. da Silva
A história possui tantos elementos que fragiliza o desenvolvimento dos mesmos. Apesar dos episódios terríveis a sensação de horror não se faz presente. Em dado momento o conto se torna repetitivo com eventos que leitor já possui conhecimento e tal feito não agrega nada aos eventos que ocorrem no quarto nem a relação com João Evangelista. A experiência final é superficial e pouco instigante apesar da natureza dos eventos absurdos.
Enterrados a respirar de Alexandre Cthulhu
Tal história me prendeu do início ao fim. Um dos nomes do capítulo que divide o conto é quem nomeia o livro. A maneira que a psique do personagem é apresentada satisfaz leitor. O tempo em que a narrativa se desmembra é bem distribuído. O frenesi aqui é intenso. A cada novo momento encerrado o escritor deixa um gancho que faz o leitor ficar ansioso para descobrir a próxima sucessão dos fatos.
Em busca da desgraça da pedra azul de Cristiane Schwinden
Narrativa cativante e bem engendrada. A história apresenta Filipa e Fabiano, dois baianos que foram convocados para salvar a sua cidade. Um dos pontos altos da história são as descrições pormenorizadas de características que geram um sentimento de identificação instantânea e tornam a obra um deleite para aqueles que querem se aproximar um pouco da história e da cultura soteropolitana. O conto fantástico adota elementos locais como o monumento do caboclo, por exemplo, ampliando o alcance da imaginação de quem o lê. Sua escrita favorece a imaginação tornando cada processo bem vívido, principalmente para quem já caminhou pela região do antigo centro com frequência. A história suscita naturalmente a visualização dos elementos que Cristiane apresenta, tornando-se um ótimo conto para crianças e adolescentes.
Quibungo de Rochett Tavares
A obra se apresenta de maneira pujante e imponente com personagens ricos em cultura e profundidade emocional. Apesar de sua apresentação demandar bastante do leitor por conta da linguagem rebuscada e ausência de notas de rodapé para apresentar o diálogo, a história não tem seu sentido alterado. É interessante observar que aparentemente um dos objetivos da autora é transformar seu leitor no hispaniole, vulgo homem branco. Tal sensação é reforçada porque ela apresenta uma leva de diálogos que incita a curiosidade do leitor e não possui tradução. Se a princípio a história não parece avançar tanto e tem ritmo bastante monótono, quando se desenvolve para o desafio dos personagens ela ganha fôlego e resgata a vontade do leitor de chegar até o fim. A história apresenta detalhe e descrições dignas do estilo épico. Também é possível conhecer hábitos, história e cultura de povos distintos.
O livro, lançado pela EX! Editora apresenta capa cartão (antes era papel couchê) e papel de maior gramatura, tendo 196 páginas, no formato 14cm x 21cm.
Onde comprar:
Projeto Lettera (livro físico)
\"O Mal que nos Habita\" traz abordagem inovadora e uma construção eficaz e crescente do suspense dentro da narrativa.