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FEAR THE WALKING DEAD - 4a Temporada (primeira metade)

Por: Saul Mendez Filho

Após uma longa jornada de Los Angeles ao México, além das fronteiras culturais, perpassando personagens chicanos, indígenas e todo tipo de mistura genética; partindo de um conturbado início com um casal formado por uma personagem americana e um maori, com filhos de ambos os lados, incluindo um dependente químico; os conflitos ensolarados de Fear the Walking Dead sempre tiveram um sabor muito diferente da série que a originou. Além de possuir as suas amarras bem afastadas da série de quadrinhos, permitindo maior liberdade criativa, a intenção sempre foi a de criar um ritmo totalmente diferente e, apenas futuramente, cruzar os personagens de uma série com a outra. Nesta quarta temporada esse futuro chegou, com um salto temporal acelerado e abrindo mão dos conflitos, cores e personagens que temperavam a série californiana.


A mensagem fica clara no início do primeiro episódio, que carrega a carga dramática e ritmo exageradamente lento que The Walking Dead não soube dosar nos ultimos tempos. Também as tonalidades acinzentadas da série original tomam conta, além da mudança no logotipo e abertura, mostrando que a fusão que o espectador passará a presenciar vai além dos personagens e perpassa a estrutura básica da série.


Apesar de uma primeira e uma segunda temporada irregulares, Fear the Walking Dead começou como uma série de fantásticos pontos altos. Os grandes momentos em alto mar no deck do iate "Abigail" (do irreverente personagem Victor Strand) foram a cereja do bolo que comprovaram que ainda havia fôlego para a marca TWD. Ainda havia vida. A terceira temporada pisou em terra firme com qualidade de escrita, personagens fortes com belas atuações, ótimo screenplay e sequências memoráveis. Nesse momento, FearTWD alcançou um status superior a tudo que a série original vinha apresentando nos ultimos anos. 


Poderia ser que a mudança de tom estragasse a série por completo, e essa é, ao menos, a primeira impressão ao início da quarta temporada. No entanto, o estreitamento entre os horizontes amarelados do Texas e o cinza militarista do mundo dos sobreviventes do norte acaba rendendo bons momentos e a aquisição de ótimos personagens - em detrimento da perda de outros. Saem de cena latinos, saem de cena índios, saem de cena personagens difíceis demais de descer goela abaixo da comunidade norteamericana, às custas de soluções claramente forçadas no roteiro desde o acelerado final da terceira temporada. Mas apesar dos tristes tropeços que chateiam os fãs mais ávidos, a série mantém um bom ritmo e prende o espectador. O núcleo reduzido de personagens e o foco na sobrevivência contra os mortos-vivos continua mantendo a série como uma proposta de entretenimento melhor do que os rumos que a série original tomou. Ao utilizar a mesma fórmula das temporadas de ouro de TWD, o spin-off acaba saindo à frente no fim dos tempos.


A fórmula utilizada que mais prende nessa primeira metade da temporada é o contexto do romance em risco. O carismático personagem John Dorie (Garret Dillahunt), o cowboy de grande coração, em sua odisséia romântica para encontrar "Laura" (Jenna Elfman), divide entre apocalipticos e integrados personagens conhecidos com os quais nos importamos; o que vence no fim dos tempos, amor ou ódio? por quem torcer? não queremos que nenhum morra, no entanto simpatizamos com os sentimentos de todos. É com essa premissa básica que a série ganha de vez as atenções, a partir de um dos episódios mais bonitos que a marca TWD já apresentou nos ultimos quatro anos: o episódio 5, intitulado "Laura", escrito por Anna Fishko (também da série Colony) e sob a direção de Michael Satrazemis (presença comum na direção de fotografia da série original).


Por fim, cabe ressaltar também a referência nunca antes realizada em nenhuma das duas séries a uma obra pouco abordada de Romero: Diário dos Mortos (Diary of Dead, 2007), ao trazer uma personagem jornalista/documentarista ainda rasa, mas que engloba uma nova perspectiva e novas técnicas narrativas no contexto da série - apesar de levantar mais um questionamento aos roteiristas: como a personagem consegue carregar a bateria daquela Panasonic? questões nunca antes respondidas na ficção televisiva...

Resenhas
https://www.cinehorror.com.br/resenhas/fear-the-walking-dead-4a-temporada-primeira-metade?id=102
| 724 | 01/08/2018
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