Direção: David Gordon Green
Roteiro: David Gordon Green, Danny McBride, Jeff Fradley, John Carpenter e Debra Hill
Produção: Universal Pictures.
Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, James Jude Courtney.
Duração: 106 min.
Sinopse: Quatro década depois de ter escapado do ataque de Michael Myers em uma noite de Halloween, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) terá que confrontar o assassino mascarado pela última vez. Ela foi perseguida pela memória de ter sua vida por um triz, mas dessa vez, quando Myers retorna para a cidade de Haddonfield, ela está preparada.
Uma abóbora decorativa de halloween, esmagada em um chão invisível sob um fundo preto, se reconstrói na tela. Durante os créditos que homenageiam o filme original de 1978, a abóbora volta a seu estado original, fulgureando sua incandecência festiva. É Halloween em Haddonfield/Illinois no ano de 2018 - 40 anos após o lançamento do clássico filme de John Carpenter que iniciou, no cinema americano e no mundo, a febre dos slashers que dominariam as bilheterias de outubro durante os anos 80. Mais que um filme, Halloween é um farol. O toque de sintetizador delineia, durante os créditos, a trilha original do "carpinteiro" em uma versão levemente diferenciada. Embebido no cinema italiano, Carpenter criou em 78 o que se procura repetir aqui, dos créditos à sequência final: um filme sobre o mal encarnado, a morte que vem em forma masculina destruir a beleza de jovens mulheres, casa após casa, em reverência a Sei Donne Per L'Assassino (Mario Bava, 1964).
Para a sequência de 2018, recriar o clima do original se tornou o projeto principal de Carpenter em uma produção que tem a parceria de Jason Blum e Jamie Lee Curtis. Jamie não só é a peça principal no filme original e no atual, como peça indispensável para a obra como um todo: a scream queen primordial reconhece a importância da obra para o cinema (de horror ou não) e nunca o abandonou, mesmo em suas sequências mais vergonhosas. Uma sequência fraca após a outra, ao que se agrega a breguice de cada época, nunca conseguiu enfraquecer a série, diga-se de passagem. Além do poder de Michael Myers para a cultura do entretenimento, curiosamente essas sequências sempre estiveram à frente dos demais lançamentos do gênero, sendo no mínimo divertidas quando comparadas a outros títulos. Ainda se fala com nostalgia de sequências como Halloween H20 (1998), que certamente estava à frente do revival de slashers despertado por Scream (Wes Craven) em 1996. No entanto, o novo Halloween desconsidera todas as sequências e se propõe a apresentar uma realidade onde o velho Myers consegue fugir pela primeira (segunda!) vez, para reencontrar Laurie Strode e finalizar o spree killing de 40 anos atrás.
Pode-se dizer que o que define o Halloween de 2018 são as produtoras envolvidas: Universal, Miramax e Blumhouse. A direção e roteiro, assinadas por David Gordon Green de Pineapple Express (2008), com parceria na escrita de seu colega e ator Danny McBride, demonstram uma escolha pautada na solidez comercial do projeto. Esses nomes estão envolvidos em comédias, dramas, todo tipo de projeto - sem apego exatamente "artístico". São executores eficientes no mercado de Hollywood. E, diga-se de passagem, abraçam o projeto de recriar o clima do Halloween original com afinco. Existem momentos literalmente ótimos: da sequência em que um garoto procura o pai próximo ao ônibus do presídio do estado, em meio à nevoa da rodovia, em uma fotografia e ritmo semelhante a No Country for Old Men (Coen Brothers, 2007), à primeira sequência de assassinato em tela, no clássico cenário de um posto de gasolina. A duração do assassinato em tela é um fator memorável, de grande valia para todos os fãs do gênero. Os primeiros assassinatos na cidade também seguem o melhor formato possível, com a câmera acompanhando cada passo do assassino. Mais italiano, impossível.
Para a nova geração, existem os momentos de referência: personagens que encontram seus olhares através de janelas, um corpo que está ali e depois não mais, além de todo tipo de referência direta a personagens e fatos do filme original, permitindo flashbacks e piadinhas (o "efeito Marvel") em quantidade moderada.Em termos de comparação, no entanto, o novo Halloween é literalmente a reconstrução de um título que se assemelha mais aos moldes do Star Trek de J. J. Abrams (2009), dando os primeiros passos na estrutura de uma franquia renovada, deixando o final em aberto para uma sequência mais do que provável. Para tanto, os créditos iniciais com a abóbora ressurgindo simbolizam exatamente a proposta.
A impressão final é de um filme que, apesar de apresentar um resultado sólido, de qualidade e extremamente satisfatório, ainda derrapa no meio do caminho com algumas saídas forçadas de roteiro e momentos com problemas de edição e/ou ritmo. Apesar desse 15 a 20% falho, é de se aplaudir com afinco os 80% que, após tantos Halloweens, os fãs do gênero esperavam. Para assistir em tela grande, com uma boa cerveja.
Filme do diretor Jon Turteltaub é uma grata surpresa, apostando na diversão descompromissada e no absurdo.