The Conjuring: The Devil Made Me Do It (2021)
Direção: Michael Chaves
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick (roteiro). James Wan (história)
Elenco: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Ruairi O’Connor
Duração: 1h52
Sinopse: Os Warren investigam um assassinato que pode estar conectado a uma possessão demoníaca.
“Lembro-me que em determinado momento olhei para o relógio em meu pulso mais de duas vezes para saber quando aquela tortura iria acabar.”
Decepção, vontade de sair da sala, tédio. Essas são algumas das palavras que se encontram no meu repertório. Eliminar os estados de animosidade e as perguntas fazem com que o filme Invocação do Mal 3 só traga as respostas prontas. É difícil falar sobre um projeto que mal causa sensações, mas farei um esforço para pontuar os aspectos pelos quais das obras anteriores esse filme é o que causa a menor impressão positiva no espectador.
De início pode-se destacar que esta experiência não é para aqueles que buscam uma experiência assustadora. Longe disso. O filme se estrutura por uma narrativa investigativa para tentar buscar a solução para o novo caso de Ed e Lorraine Warren. Esta investigação que poderia ter inúmeros desdobramentos se fincou numa longa busca sem muita emoção com cenas ocorrendo sem natureza sombria, criação de tensão, medo, agonia e pavor. Tem-se apenas uma sequência de cenas que contam uma história e nada mais.
Para início de conversa, as melhores cenas do filme se encontram no trailer. As demais são os desdobramentos daquelas cenas principais. Não se tem surpresas. A mão que James Wan opera ao conduzir uma cena com tamanha maestria em seu exímio trabalho de câmera e exploração de ângulos e perspectivas que criam imersão não ocorre aqui. É lamentável para mim dizer isso, mas o diretor Michael Chaves não chegou nem perto de contar uma história.
A montagem alternada com eventos ocorrendo em simultâneo cuja marca a direção do James Wan nos dois primeiros filmes com uma boa construção de tensão pela boa marcação de tempo no desenvolvimento dramático aqui soa extremamente amador e preguiçoso. É difícil dizer qual era o propósito de Chaves nessa direção porque o projeto não consegue fazer o básico.
Eu lembro o quanto eu esperei pela continuação dessa história e a decepção foi tão grande que não parecia se tratar do mesmo projeto. Uma coisa que me causou muito incômodo também foi a utilização do CGI (imagem gerada por computação) que ficou tão mal trabalhado que parecia ter sido feito às pressas, não sendo favorável à minha crença na cena que obviamente eu sabia que se tratava de um cenário montado, quebrando totalmente a minha imersão.
Um aspecto que considero relevante no diretor é que ele trouxe momentos de silêncio para o filme, mas não soube como criar tensão. Ele utilizou uma direção de cena em que na maioria das vezes dava tempo para as coisas acontecerem permitindo a resolução dos problemas. Neste filme, Chaves remove toda a possibilidade de pensamento de que as coisas em algum momento poderiam não dar certo - para mim é um aspecto muito frustrante numa obra.
Nesta produção não é possível ver a capacidade dos atores pois o filme não dá espaço para isso. Os momentos de exorcismo são visualmente exagerados com pouca expressividade porque ocorrem muito rápido. A sensação de ver as coisas e não as sentir me causou estranheza porque é notável que o filme tinha as suas intenções estéticas e emocionais, mas elas não funcionam aqui. Os momentos de alívio cômico foram bem empregados, mas isso apenas demonstra que provavelmente o diretor talvez esteja atuando no seguimento errado.
A cena que talvez cause maior comoção seja a do assassinato pois tem uma boa transição de fotografia e a cena em si é bonita do ponto de vista fotográfico. Deste filme a direção de fotografia bem como a direção de arte conseguem executar bem os seus papéis. Com utilização de luz baixa, presença de cor luz numa mesma cena indicando onde está o mal também foram eficazes para criar suspense, mas do ponto de vista da direção, nenhum desses aspectos fora aproveitado genuinamente.
Não gosto da utilização de jump scare porque ele basicamente consiste na criação do silêncio para um baque em volume alto num momento não aguardado pelo espectador. Aqui o diretor faz utilização desse recurso o que torna a execução do filme preguiçosa levando em consideração que os momentos de silêncio que a obra trouxe à tona poderiam ter sido aproveitados.
O encerramento do filme além de extremamente previsível foi cansativo porque aqui fica bem evidente a utilização de recursos fáceis para que todas as coisas se resolvam e o filme apresente o seu final feliz. Penso que ao se ter uma bruxa na narrativa, diversos elementos que envolvem ilusão poderiam ter sido utilizados e por conta desse aspecto, fiquei lamentando o quão rápido e preguiçoso foi o desfecho da história.
Numa apreciação geral a sensação que se tem é de que o filme está de morno para frio. Alguns críticos elogiaram o fato deste filme apresentar uma investigação mais longa, só que o problema é que a investigação se tornou tão longa e onerosa do ponto de vista cronológico dos desdobramentos dos eventos como um todo que se tornou desequilibrada na divisão dos atos. Em questão de estrutura tem-se muito tempo para um evento de investigação com materiais e elementos quase incipientes para um desfecho fraco, previsível e sonolento do ponto de vista da direção.
Como o diretor me apresenta uma luta final com uma mulher que além de ser difícil de ser encontrada tinha um poder e uma força descomunais, mas que no fim das contas é extremamente fácil de ser derrotada quando se está perto dela? Além disso, nesse momento se tem uma montagem alternada onde Arne está num processo de possessão e não existe nenhuma grande tensão, apenas duas coisas distintas ocorrendo e sendo trocadas a relação entre as alternâncias não causa comoção, apenas incômodo. Parecem dois filmes distintos sendo exibidos de maneira fragmentada. Executar montagem alternada requer diversas camadas de trabalho. É necessário saber realizar a construção de intenção simultânea e criar um tempo que favoreça o crescer da sensação de maneira conjunta - justamente o que não ocorre no final desse filme. Ter deixado o foco dramático centrado nas figuras de Patrick Wilson e Vera Farmiga foram o ápice para relevar a inoperância dessa execução.
Isso não ocorreu nas outras produções de Invocação do Mal e justamente por coisas ruins estarem ocorrendo de maneira intensa para todos os lados que o estado de suspensão e agonia era evocado no espectador. Por mais que James Wan resolva os problemas, ele ainda nos permite questionar e imaginar o que de fato pode acontecer. Por mais que ele aponte possíveis desfechos, o seu brilhantismo reside em permitir o fluir da imaginação do espectador: a arma mais poderosa a ser trabalhada quando se quer fazer um bom filme.
Recomendo que não assista ao trailer se não quiser ter sua experiência menos entediante. O trailer entrega demasiadamente.
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