MISSÃO DE SOBREVIVÊNCIA

TÍTULO ORIGINAL:  Kandahar | 2023 | EUA – Arabia Saudita
DIREÇÃO: Ric Roman Waugh
ELENCO: Gerard Butler, Navid Negahban, Tom Rhys Harries, Mark Arnold, Nina Toussaint-White, Bahador Foladi, Travis Fimmel, Ali Fazal, Vassilis Koukalani.
ROTEIRO: Mitchell LaFortune
DURAÇÃO: 119 minutos
DISTRIBUIÇÃO: Open Road Films

SINOPSE: Inspirada nas memórias de guerra do próprio roteirista (Mitchell Lafortune), a história escrita por Mitchell LaFortune mostra o agente Tom Harris (Gerard Butler) em uma série de missões no Oriente Médio, até o momento em que precisa sobreviver a um longo trajeto para ser resgatado.

Tom Harris (Gerard Butler) é um agente secreto que acabou de ter uma missão bem-sucedida ao destruir uma usina nuclear subterrânea no Irã. Sendo convencido rapidamente a participar de uma missão no Afeganistão pós-intervenção estadunidense, ele tem sua identidade revelada, precisando fugir urgentemente do local. Junto de seu intérprete local, Mohammed ‘Mo’ Doud (Navid Negahban), precisa percorrer 640 km em 30 horas até uma base antiga da CIA, localizada em Kandahar, no Afeganistão, enquanto é caçado por vários tipos de forças, onde cada uma tem um propósito por sua captura em meio aos conflitos político/tribais que assolam a região.

RESENHA:

A mais grata surpresa que percebi no filme Missão de Sobrevivência (Kandahar) foi a de conseguir contextualizar de forma relativamente didática o complexo cenário geopolítico da região que compreende o Irã, Afeganistão e Paquistão, no “status quo” pós domínio estadunidense, sobretudo no Afeganistão. Como se processam as ferozes disputas político/tribais naquela região, enfatizando o cenário de “terra de ninguém” onde prevalece o obscurantismo das leis religiosas com especial destaque para o Talibã e o Estado Islâmico.

Confesso que geralmente não me apego a uma apuração mais refinada sobre roteiros de filmes de ação, por motivos óbvios, o foco é o entretenimento com base na trama de modo geral. Partindo desse princípio, de fato Missão de Sobrevivência consegue proporcionar uma excelente entrega do ponto de vista de ser uma história bem contada, cuja narrativa coaduna com os eventos recentemente ocorridos no Irã (a invasão hacker no sistema de inteligência do programa nuclear daquele país), o que gerou repercussão internacional. Assim como as mazelas deixadas no Afeganistão após longos anos de intervenção estadunidense, associadas ao retorno do governo Talibã ao poder daquele país e a evolução das milicias do Estado Islâmico e demais grupos rebeldes/dissidentes.

Como dito, todo esse complexo cenário, retratando a realidade de uma terra totalmente desolada por anos de conflito é sublinhado de forma magnifica através do personagem Mohammed ‘Mo’ Doud (Navid Negahban), que faz o papel de guia e interprete na trama, um homem com uma magnifica história que reflete muito sobre os valores da cultura islâmica, o personagem Mohammed (ou simplesmente, “Mo”) é filho do Afeganistão, fugiu para os Estados Unidos após os próprios afegãos atacarem a cidade em que vivia com a família, matando o seu filho mais velho. Após o retorno, sua missão era achar a nora desaparecida, mas seus planos são simplesmente deixados de lado quando se vê em meio à turbulência de propósitos conflitantes, por vezes antagônicos em meio a jornada, aceitando que escapar com vida e retornar para a família é mais importante.

O protagonista da trama, Tom Harris (Gerard Butler, “300”), faz uma atuação deveras mediana, para o que se esperava do ator, contudo, merece destaque a forma como o cenário desértico é retratado, não apenas pela fotografia impecável, assim como a trilha sonora arrepiante e majestosa (digna de especial destaque), mas pela forma como o cenário político local ganha especial destaque na narrativa. Retratando o “modus operandi” dos governos locais, as brigas de diversos grupos internos pelo poder, enquanto agentes mercenários são usados como meros peões por grandes potências estrangeiras.

O final do filme é justamente o ponto mais clichê da obra (há quem goste, afinal contas, gosto é gosto), promovendo o tão batido patriotismo estadunidense como figura civilizatória (ex.: Rambo, Resgate do Soldado Ryan, enfim...), em total contraposição as mazelas ora existentes naquela região, o que por si só põe em xeque a eficácia da invasão estadunidense e o completo caos no qual aquela região foi deixada.

Por fim, destaco que embora não seja admirador inveterado das obras do gênero ação, o filme Missão de Sobrevivência conseguiu deixar uma impressão acima da média, admito que inclusive superando em termos de narrativa e contextualização da história, ao filme Missão: Impossível - Acerto de Contas: Parte 1, contemporâneo de lançamento.

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