Nome: Mullet MadJack.
Gênero: FPS / Ação.
Estúdio: Hammer95.
Distribuidora: Epopeia Games.
OVA’s ou Original Video Animation eram animações japonesas feitas diretamente para VHS, logo, podiam abusar de violência e erotismo sem se preocupar com uma distribuição restrita em salas de cinema. A explosão no mercado de obras desse estilo se deu nos anos 80 e 90, onde diversas mídias de entretenimento apostaram em mais violência e temas “adultos”. No Brasil, obras como Vampire Hunter D, Capitão Harlock e Wicked City foram alguns dos exemplos mais populares. Mas, não estamos aqui para falar de alguma obra dessa leva, mas sim de um produto novo que bebe diretamente do estilo transgressor e radical desse período conturbado do entretenimento. Estamos aqui para falar sobre o jogo brasileiro Mullet MadJack.
Em um futuro distante, o ser humano se fundiu com a internet e modificou para sempre a ideia de entretenimento. Agora, o ser humano precisa de dopamina a cada 10 segundos para sobreviver, fazendo com que o tédio seja o mesmo que a morte. Um grupo de robôs se aproveitou dessa dinâmica e controlam os principais meios de comunicação e entretenimento, se tornando os Robilionários. Mas, não seria uma distopia cyberpunk sem ninguém para enfrentar esses roborricaços; as pessoas que vivem para caçar esses robôs são chamadas de Moderadores. E é aí que entra nosso protagonista do tipo silencioso e “fodão”.
O jogo abre com uma cutscene explicando sobre o universo, e nos apresenta nosso protagonista e nosso objetivo: salvar a princesa influencer das mãos de um grupo de Robilionários. Daí invadimos o prédio em que ela está sendo mantida, e entramos de vez no universo estiloso e violento de Mullet MadJack. Logo de cara o jogador é surpreendido pela trilha sonora, que adota o retrowave (estilo de música que utiliza sintetizadores para fazer músicas que lembram os anos 80) e uma arte cartunesca que presta homenagem aos OVA’s e animes dos anos 80. Tanto que nosso protagonista entra em cena realizando o célebre Akira Slide. Tudo em Mullet grita o exagero, seja na arte hiper detalhada, nas cores fortes e na violência. Escolha que lembra ao jogador constantemente da ambientação distópica e futurística.
Enquanto os aspectos artísticos servem como primeira surpresa, o gameplay também não deixa a desejar. Mullet é um FPS com elementos roguelike, um jogo de tiro em primeira pessoa que conta com aspectos randômicos em seus mapas, no posicionamento e na distribuição de inimigos. Podemos atirar, deslizar, chutar e executar. Mas lembrem-se, o ser humano precisa de entretenimento a cada 10 segundos. Caso o jogador tome dano o suficiente, ou deixe o público entediado ele irá morrer e retornar ao primeiro andar após cada dezena de andares. O jogador nunca está sozinho nesta empreitada, juntando história e gameplay de uma maneira bem orgânica. Cada fase é acompanhada ao vivo por um chat, que decide se seu headshot foi estiloso o suficiente ou se o robô que foi chutado no ventilador foi feito em pedacinhos. Cada morte dá um tempo a mais para o jogador permanecer vivo e chegar até o chefe dos andares. O jogo também tem uma grande diversidade de jogabilidade e fator replay, pois a cada conclusão de fase, o jogador escolhe um upgrade, podendo ser algo passivo (como enfraquecer os inimigos próximos), uma nova arma ou a melhoria da arma equipada.
O combate de Mullet consegue com que o jogador abrace o loop de ação frenética com a inserção de novos inimigos e mecânicas, fazendo com que a zona de conforto nunca se estenda além do necessário. Seja com sessões de plataforma, corrida pelas paredes e inimigos que se teletransportam. A única coisa que me incomodou um pouco em Mullet foi a quantidade de chefes, esperava mais lutas contra os Robilionários. Espero que com atualizações futuras o jogo receba mais chefes com mecânicas interessantes, como uma arena que cai ou tomar dano em uma área específica.
A narrativa de Mullet não chega a ser uma grande revolução ou novidade, mas consegue de maneira natural fazer um paralelo com a realidade, trazer críticas ao imediatismo e ao consumismo que já estão enraizados na sociedade contemporânea. Como uma boa ficção científica, o jogo utiliza uma roupagem exagerada para chamar atenção da necessidade crônica de estar online e por dentro de tudo que acontece. Extrapolando as consequências da popularização de live streams e de plataformas que dão espaço para figuras controversas ou de entretenimento no mínimo questionável.
Mullet surpreende por seu looping divertido de gameplay, visuais surpreendentes e trilha sonora imersiva. Outro fator que faz com que o jogo se destaque é o fato de ser brasileiro, o estúdio Hammer95 localizado no Rio Grande do Sul traz os olhares internacionais para nosso país com um jogo que consegue se destacar em quase tudo que se propõe. Mullet MadJack pode ser adquirido na Steam, um porte para Nintendo Switch está planejado para este ano (2025), possui suporte para controle, modo infinito, modo boss rush e possui dublagem (com vozes clássicas das dublagens de animes) e legendas em português.
O filme é co-escrito e produzido por Guillermo Del Toro.