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NÃO SE PREOCUPE, QUERIDA

Por: Guilherme Paim

Don’t Worry Darling, 2022, EUA.
Direção:
Olivia Wilde
Roteiro: Katie Silberman
Elenco: Florence Pugh, Olivia Wilde, Chris Pine, Harry Styles


Sinopse: Alice tem uma vida feliz como uma residente do Projeto Victory, uma comunidade experimental aparentemente perfeita que abriga as famílias dos funcionários do projeto ultrassecreto. A utopia cinquentista da protagonista, porém, começa a apresentar rachaduras quando Alice é atormentada por alucinações e eventos traumáticos dentro da outrora pacata comunidade.


 


“Não se Preocupe, Querida” se trata de um filme do gênero suspense, dirigido por Olivia Wilde e que entra em cartaz a partir do dia 22 de setembro. Por se tratar de um gênero tipicamente associado a um trabalho meticuloso de construção narrativa, as polêmicas que parecem ter surgido em torno da produção do filme assustaram, compreensivelmente, aqueles que aguardavam algo de alto calibre, especialmente com um elenco, em sua maioria, extremamente forte.


Felizmente, estes problemas internos não afetaram o produto final tanto quanto se esperava. Ainda assim, há problemas suficientes que impedem o filme de alcançar todo o seu potencial.


A começar pelos aspectos visuais, não é exagero dizer que “Não se Preocupe, Querida” é uma experiência mais que sólida neste quesito. A estética cinquentista foi uma escolha acertada e longe de ser desconexa. Todos os cenários ao longo do filme são permeados de uma mistura bem dosada entre excessos e uma tentativa obsessiva por perfeição e funcionalidade, com todo ambiente lembrando um subúrbio norte-americano.


A trilha sonora e algumas discretas referências a conceitos Orwellianos (felizmente não exagerados) terminam de selar uma atmosfera superficialmente atraente, mas que soma à tensão construída por meio de outros aspectos, configurando algo que pode ser facilmente considerado a mais firme parte da obra, a narrativa “ambiental” que conseguiu criar.


 


A história trata da vida de Alice Chambers (Florence Pugh), esposa de Jack Chambers (Harry Styles) e uma das felizes residentes do Projeto Victory. Todos os homens do complexo residencial, que esteticamente lembra uma série de subúrbios norte-americanos interconectados são empregados no Projeto, que é rodeado de mistério, já que apenas os homens têm conhecimento do que se passa fora da vizinhança.


Não demora muito para que as falhas na aparência perfeita da comunidade se revelem. Primeiro com uma das residentes apresentando um comportamento errático durante uma festa na casa do “líder” do Projeto Victory, Frank (Chris Pine), algo que afeta Alice consistentemente, tornando mais fortes alucinações, sonhos e até “flashes” de memórias desconexas que ocasionalmente a incomodavam.


A proposta do filme é construída muito bem, desde a ambientação até as representações visuais do que a princípio parece ser Alice perdendo sua sanidade. É no ponto de virada do filme que seus defeitos, a partir do momento em que Alice faz as conexões sobre o que pode realmente estar ocorrendo no Projeto, o ritmo do filme muda rapidamente e o que era uma caminhada um pouco apressada até então, vira uma verdadeira maratona que tenta finalizar o filme e preparar um twist que, francamente, não se encaixa tão bem quanto deveria na narrativa.


Ao longo da trama, várias cenas com uma aparência bastante “experimental” são mescladas à narrativa tradicional e sempre associadas a um bom uso do audio como “ritmo” para elas (com tambores e pulsares funcionando bem como metáforas para controle e ordem), com o objetivo de mostrar como a psiquê de Alice encara toda a situação, é uma excelente ilustração emocional do desespero da personagem e da sua sensação de perda de sanidade. Infelizmente, apesar de agregarem bastante à narrativa, o uso delas passa a se tornar excessivo, algo que certamente contribuiu para os problemas de ritmo na segunda metade do filme.


 


Uma boa parte do que é bom ou excelente em “Não se Preocupe, Querida”, seria medíocre sem um elenco menos que excelente. Felizmente, as escolhas foram, de maneira geral, excelentes, com apenas Harry Styles apresentando uma inconsistência incômoda na qualidade do seu trabalho.


Destaques positivos, no entanto, são mais que comuns e merecidos.Dentre estes, Florence Pugh mais uma vez mostra um alcance incrível de atuação, além de Chris Pine e da própria Olivia Wilde, que assume o papel de Bunny, uma das vizinhas e amigas de Alice e que mostra uma complexidade surpreendente, especialmente nos momentos finais da trama.


 


“Não se Preocupe, Querida” é um caso bastante interessante em termos metalinguísticos. O filme tem, sem dúvida todos os elementos para a criação de uma experiência cinematográfica pretensiosa e tediosa. O visual cinquentista proeminente, escolhas de elenco, em sua maioria, “seguras” e até mesmo uma cota razoável de material audiovisual que poderia facilmente ser qualificado como experimental.


Tudo isso, somado a uma produção rodeada de polêmicas, surpreendentemente trouxe à tona um enredo bastante envolvente e uma história que certamente merecia ser contada, mas infelizmente ofuscada por problemas de ritmo consistentes nos últimos dois atos e o uso um tanto quanto exagerado de certos recursos narrativos.


Se for exercitada uma certa generosidade com esses problemas, no entanto, é com certeza uma experiência cinematográfica mais do que válida, especialmente para aqueles com maior interesse em visuais deslumbrantes.


 

Resenhas
https://www.cinehorror.com.br/resenhas/nao-se-preocupe-querida?id=891
| 571 | 21/09/2022
"Não se Preocupe, Querida" é um caso bastante interessante em termos metalinguísticos.
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