TÍTULO ORIGINAL: NINGUÉM SAI VIVO DAQUI | Ano de Produção: 2023 | Brasil
DIREÇÃO: André Ristum
ROTEIRO: André Ristum, Marco Dutra e Rita Gloria Curvo
ELENCO: Fernanda Marques, Augusto Madeira, Andréia Horta, Rejane Faria, Naruna Costa, Aury Porto, Arlindo Lopes e Bukassa Kabengele
DIRETOR DE FOTOGRAFIA: Hélcio Alemão Nagamine, ABC
DIRETOR DE ARTE: Dani Vilela
MONTAGEM: Bruno Lasevicius
MÚSICA ORIGINAL: Patrick de Jongh
PRODUTOR EXECUTIVO: Rodrigo Castellar
PRODUTORES: André Ristum, Rodrigo Castellar, Caio Gullane, Fabiano Gullane e André Novis
PRODUTORAS: Sombumbo e TC Filmes
DISTRIBUIDORA: Gullane+
Duração: 86 min
SINOPSE:
No começo dos anos 70, a jovem Elisa é internada à força pelo pai no Hospital psiquiátrico Colônia, por ter engravidado do namorado. Após passar por muitos abusos, Elisa, junto com outros colegas injustiçados, lutarão para encontrar uma maneira de fugir dessa sucursal do inferno.
RESENHA:
O filme "Ninguém Sai Vivo Daqui", dirigido por André Ristum, é uma obra cinematográfica que nos transporta para o início dos anos 70. Inspirado no livro "Holocausto Brasileiro", escrito pela jornalista Daniela Arbex, o longa-metragem narra a história de Elisa, uma jovem grávida internada à força pelo pai no Hospital Colônia. A vulnerabilidade e angústia de Elisa, interpretada por Fernanda Marques, são palpáveis, mergulhando o público nas profundezas emocionais dessas vidas negligenciadas.
A década de 70 no Brasil, cenário do filme, foi marcada por profundas transformações sociais, políticas e culturais. Durante esse período, o país vivia sob o regime militar, que impôs censura, repressão e violações dos direitos humanos. Nesse contexto, o Hospital Psiquiátrico Colônia, localizado em Barbacena (MG), tornou-se um símbolo sombrio dessa época.
O Hospital Colônia, fundado em 1903, já existia antes do regime militar, mas foi durante esse período que suas práticas desumanas atingiram o auge. Originalmente destinada ao tratamento de pacientes com transtornos mentais, a instituição transformou-se em um depósito para pessoas consideradas "indesejáveis" pela sociedade. A atmosfera do filme é perturbadora, carregada de suspense e opressão, com o diretor André Ristum conduzindo o público pelos corredores sombrios do hospital. A escolha de filmar em preto e branco é significativa, refletindo a desolação e a falta de esperança que permeiam aquele ambiente, em muitos momentos remontando a obras como “A Lista de Schindler” e a “Zona de Interesse”, entretanto, a perspectiva do suspense e o teor dramático aqui apresentado assume um caráter extraordinário e único.
Comparando com a série "Colônia", também baseada no mesmo livro, percebemos diferenças sutis. Enquanto a série explora gradualmente o sofrimento dos pacientes, o filme concentra-se nos momentos mais contundentes da narrativa. Ambos oferecem experiências complementares, enriquecendo nossa compreensão desse período sombrio da história brasileira.
A relevância do tema persiste até os dias atuais. Mesmo após a reforma psiquiátrica de 2001, ainda enfrentamos desafios na área da saúde mental. "Ninguém Sai Vivo Daqui" nos convida a refletir sobre a humanidade, a empatia e a necessidade contínua de debater questões sociais em suas mais diversas camadas.
Inegavelmente, o Hospital Psiquiátrico Colônia representa uma das páginas mais sombrias da história brasileira, revelando como a sociedade pode permitir atrocidades quando se omite ou legitima práticas desumanas. O filme nos alerta para a importância de nunca esquecermos esses episódios e de continuarmos debatendo e lutando por uma sociedade mais justa e compassiva.
O desfecho do filme reserva uma surpresa dramática, reforçando a mensagem cabal de que, a ação de desumanizar conduz inevitavelmente à barbárie. Óbvio, mais precisa ser dito, nesse caso, apresentado de forma cruel e voraz. Prepare-se para ser impactado ao assistir a essa obra imperdível. Uma vez mais, salve o cinema nacional!
INSTAGRAM: @ivansouzarios
O roteiro da HQ é inspirado no argumento do filme A ÚLTIMA COVA, de Armando Fonseca e Raphael Borghi.