Last Night in Soho, 2021, UK.
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright, Krysty Wilson-Cairns
Elenco: Ana Taylor-Joy, Thomasin McKenzie, Matt Smith, Michael Ajao, Terence Stamp, Diana Rigg
Duração: 1h56
Sinopse: Uma aspirante a estilista é misteriosamente capaz de entrar na década de 1960, onde ela encontra uma deslumbrante aspirante a cantora. No entanto, o glamour não é tudo o que parece ser, e os sonhos do passado começam a rachar e se fragmentar em algo muito mais escuro.
Sem dúvidas essa foi uma das experiências cinematográficas mais agradáveis que tive nos últimos tempos. Esquecer que estou assistindo para me ater exclusivamente a história tem sido difícil de acontecer nas últimas projeções. É de grande satisfação fruir a obra e o projeto de Edgar.
Nos últimos tempos os filmes têm operado bem tecnicamente e muitos ficam restritos a isso não possuindo unidade, enquanto alguns apresentam problemas em contar uma história outros simplesmente parecem não estar vivos. Em certos momentos é possível sentir cada frame de alma criativa operando, em outros casos tem-se apenas a execução mecânica. O projeto sai do campo das emoções e se torna um processo laboral contínuo. O pior dos casos é quando algumas produções possuem todos os elementos presentes e a falha reside em perceber os elementos como sendo únicos ao invés de camadas. Ver esse trabalho numa sala comercial me traz esperanças de que a sétima arte ainda poderá ser apresentada nesses espaços. É tão bom ver uma produção em que a maior preocupação é o que acontece a seguir. Esse projeto conta uma história e os seus elementos trabalham em conjunto.
Parte do brilhantismo de seu trabalho reside na boa construção da diegese e o favorecimento de tempo para construir tensão na medida certa sem abusar da boa fé de quem doa o tempo. Com esse filme ele apresenta a sua versatilidade enquanto diretor mostrando que sua capacidade está além do humor.
A sua assinatura de comédia visual ocorre nesse projeto. As acentuações cômicas são mais sutis e apenas uma se apresenta de maneira mais explícita. A construção sonora que costuma ser um aspecto notável nas execuções dos seus projetos mais uma vez se mostra bem cuidada, com exímia acentuação de atos, transições, foleys, músicas, bem como o trabalho dos pontos de escuta.
Os pontos de corte e transições de cena fluem com leveza. A edição tem um ritmo adequado para a narrativa e funciona muito bem. É possível apreciar o primor fotográfico, a moda da década de 60, a música e também as dores femininas. O desfecho é o ponto mais brando de toda a trama, poderia ter sido melhor equacionado mas é satisfatório se considerarmos o quanto o filme evoca sofrimento ao longo da sua exibição.
Em determinado ponto você estará tão absorto que a satisfação virá continuamente. Essa obra definitivamente é uma experiência cinematográfica para ser lembrada e apreciada. A Anya Taylor-Joy está sublime e vê-la cantar é emocionante. Você também poderá sentir vontade de lutar, brigar ou fugir ao longo do processo. Ver Noite Passada em Soho é entrar numa fantasia para se assombrar deliciosamente.
Dirigido por Guel Arraes, Grande Sertão, é uma adaptação do clássico da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.