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NÓS (2019)

Por: Val Oliveira

Título Original: Us (EUA – 2019)
Direção: Jordan Peele
Roteiro: Jordan Peele.
Produção: Blumhouse Productions, Monkeypaw Productions.
Elenco: Lupita Nyong'o, Winston Duke, Elisabeth Moss, Tim Heidecker, Yahya Abdul Mateen II.
Duração: 116 min.


Sinopse: Adelaide e Gabe levam a família para passar um fim de semana na praia e descansar. Eles começam a aproveitar o ensolarado local, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo e a família se torna refém de seres com aparências iguais às suas.


 


“Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei.”


Jeremias 11:11


Jordan Peele pegou o mundo do cinema de surpresa com o ótimo “Corra”, em 2017, filme que acabou sendo o vencedor do Oscar 2018 por Melhor Roteiro. Nada mal para um diretor que era conhecido por trabalhos cômicos, como na série de comédia Key & Peele. Com um filme tenso, que abordava o tema do racismo, o público esperava que o próximo trabalho do diretor enveredasse pela mesma temática, o que não ocorre exatamente no excelente “Nós”, embora haja uma comentários sobre segregação. Enveredando por uma temática ainda mais fantástica, o diretor cria uma peça de tensão crescente, com uma premissa de que todos nós temos de alguma forma, um duplo obscuro.



O filme se inicia na segunda metade dos anos 1980. Um texto relata que sob o solo dos Estados Unidos, existem vários túneis que não levam a lugar nenhum. Vemos fitas de VHS em uma prateleira (Uma das fitas é o clássico Goonies). São mostrados dezenas de coelhos presos em jaulas, e em seguidas vemos uma família se divertindo em um parque de diversões. A garotinha acaba se afastando dos pais e entra em uma casa de labirintos e espelhos, “A Floresta de Merlin”, com o lema “Encontre você mesmo”. Após se perder no labirinto de espelhos, ela sofre um trauma. Mudando para os dias de hoje, a garota, agora adulta e mãe de um casal, viaja com o marido e os filhos para a praia. O filme vai ambientando o espectador, apresentando situações e símbolos, alem de fragmentos de memória que vão fazendo sentido a medida que o filme vai se desenvolvendo, como peças de quebra-cabeça.


 


Peele vai brincando com o conceito do duplo, com imagens de espelho, as gêmeas ginastas, o relógio e o evangelho que reproduzem o mesmo numeral (11:11) por exemplo. Quando finalmente os duplos da família aparecem, no que aparentemente seria um caso de invasão de propriedade, temos crescendo no clima de suspense, cada vez mais carregado de tensão. E é a partir desse momento que percebemos uma inversão nos conceitos dos filmes de horror: aqui é o homem que é caricato e beira a histeria em alguns momentos, enquanto a mulher toma as rédeas da situação e parte para o enfrentamento. No caso, as duas personagens interpretadas de forma excepcional por Lupita Nyong'o, que mostra uma incrível versatilidade se transformando completamente dependendo da personagem que interpreta.


 


A cena de invasão é tensa, filmada com pouca luz, evidenciando um clima de desespero e claustrofobia. Os invasores, e todos os duplos se vestem de vermelho, portam tesouras cortantes e vão atrás de seus pares originais, matando-os com crueldade. Ficamos nos perguntando o que são os duplos? De onde vem? Questionados sobre a sua identidade, os outros respondem: “Somos americanos”. Cada personagem duplicado enfrenta a sua própria “sombra”, como é chamada. Como combater a si mesmo, já que é alguém com as mesmas forças e fraquezas que você, e que conhece sua mente, antevendo a ação?


 


Com muitas cenas sangrentas e alguns momentos de humor, o filme não oferece na revelação da origem dos duplos, uma solução para o mistério. Criam-se ainda mais perguntas, tornando ainda mais surreal toda a situação. O final, com um clima pós-apocalíptico, bebe na fonte de Além da Imaginação (que ganhará uma nova versão pelas mãos de Peele), deixando o final em aberto e criando uma expectativa sobre como poderia ser o desfecho da situação de tragédia, do caos e do terror que se instaurou.


Resenhas
https://www.cinehorror.com.br/resenhas/nos-2019?id=218
| 1481 | 20/03/2019
Enveredando por uma temática ainda mais fantástica, o diretor cria uma peça de tensão crescente, com uma premissa de que todos nós temos de alguma forma, um duplo obscuro.
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