TÍTULO ORIGINAL: Jules | Ano de Lançamento 2023 | EUA
DIREÇÃO: Marc Turtletaub
ELENCO: Ben Kingsley, Zoe Winters, Jade Quon, Jane Curtin, Harriet Harris
ROTEIRO:Gavin Steckler
DURAÇÃO: 87 minutos
DISTRIBUIÇÃO: Synapse Distribution
SINOPSE: Milton (Ben Kingsley) é um idoso solitário, que vive tranquilo em uma pequena cidade e recebe esporadicamente a visita da filha, mas sua pacata e monótona rotina é interrompida quando um OVNI e seu passageiro extraterrestre caem em seu quintal. A história ganha mais contornos quando suas vizinhas descobrem sobre o alienígena.
RESENHA:
“Nosso Amigo Extraordinário” que poderia se chamar também “Nossa Amiga Extraordinária”, posto que “Jules” possui características andróginas, é do exato tipo de filme “paciente e lento”, feito para ser assistido de forma despretensiosa no bom e velho estilo “Sessão da Tarde”. Possivelmente não agradará quem espera qualquer sorte de cenas convulsionantes, vertiginosas ou tramas miraculosas, longe de tudo isso, essa é uma obra reflexiva, que fala de forma sutil sobre solidão, empatia, apego e os dilemas do envelhecimento trazendo sem muitos efeitos e de forma singela a passagem de “Jules” (Jade Quon) e como seu breve interstício temporal aqui na terra acaba marcando definitivamente a vida de três personagens: Milton (Ben Kingsley), Sandy (Harriet Harris) e Joyce (Jane Curtin).
O consagradíssimo ator Ben Kingsley, vencedor do Oscar de melhor ator no ano de 1983 pela atuação como Mahatma Ghandi, no filme Ghandi, e de tantos outros filmes memoráveis (A Lista de Schindler - 1993, A.I. - Inteligência Artificial - 2001, Ilha do Medo - 2010, Êxodo: Deuses e Reis – 2014) interpreta aqui, Milton, um idoso rabugento de hábitos repetitivos e rotineiros que tem como únicas e principais distrações assistir programas de TV no sofá de sua casa e frequentar as sessões ordinárias da Câmara de Vereadores da pacata cidade. Nesse espaço a palavra é democraticamente concedida na tribuna aos moradores, onde suas reivindicações/reclames (prá variar) são sempre os mesmos: a mudança do slogan da cidade e a necessidade de colocar uma faixa de pedestres em um determinado trecho (que o mesmo costuma acessar). Um belo dia, para surpresa de todos Milton relata nas suas já batidas reclamações sobre um certo OVNI que caiu no quintal da sua casa danificando plantas e uma fonte decorativa, e quais providências as autoridades públicas poderiam tomar.
Absolutamente desacreditado pelos presentes na sessão da câmara e tendo sua sanidade mental ainda questionada pela vizinha Joyce (Jane Curtin), Milton passa também a ser monitorado por sua outra vizinha Sandy (Harriet Harris), preocupada mas também curiosa com o relato sobre o OVNI.
Apreensivo e ainda desorientado com os novos acontecimentos que vieram a abalar o seu sossego, Milton resolve estabelecer os primeiros contatos com o ser alienígena no quintal e em um gesto de humanidade decide hospedá-lo em sua casa. O que transformará em definitivo a vida dos personagens envolvidos. A vizinha Sandy que quase tem um “treco” ao se deparar com “Jules” no sofá assistindo TV, dando-se conta da injustiça que houvera cometido por não ter acreditado no relato do seu vizinho. E Joyce a mais incrédula, bisbilhoteira e intrometida das vizinhas, que suspeitando da movimentação na casa de Milton, também decide averiguar o que está acontecendo.
A BELEZA QUE HABITA NO SILÊNCIO:
Embora pareça ser um filme despretensioso, “Nosso Amigo Extraordinário” reúne os elementos necessários para que seja facilmente alçado ao patamar de obra cult do cinema, digo isso pela inexplicável magia por trás do olhar e principalmente no silêncio do ser alienígena “Jules” em uma interpretação irrepreensível da atriz Jade Quon. Irrepreensível pelo fato da atriz não dizer uma palavra sequer durante todo o filme e ainda assim conseguir expressar uma linguagem absolutamente gnóstica com seus interlocutores.
Destaco ainda e mais uma vez o papel de “Jules”, pois, este ser alienígena acaba se transformando em uma espécie de TERAPEUTA que age de forma paciente e silenciosa com os personagens centrais do filme. Desabafos, angustias, medos e incompreensões são relatados, mostrando de forma sutil que “muitas vezes o que precisamos é apenas alguém que nos ouça”, simples assim, e de forma muito velada essa é a beleza que o publico mais atento perceberá na obra.
Como apreciador de obras sutis e existencialistas, como é o caso de “Nosso Amigo Extraordinário”, o filme me agradou sobretudo pelo debate que consegue suscitar sobre as relações de empatia, solidariedade, dilemas profundos e existenciais (como a angustia com o fato de envelhecer) as expectativas e frustrações dentro das relações humanas (quer seja social ou familiar) e principalmente, o quanto pessoas são importantes na vida de pessoas.
INSTAGRAM: @ivansouzarios
O assassino em série ficou conhecido como o estripador de Yorkshire, e sua história é contada na série documental da Netflix