O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley/2021/EUA)
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro, Kim Morgan baseado no livro de William Lindsay Gresham (Nightmare Alley)
Elenco: Bradley Cooper, Cate Blanchett, Toni Collette, Willem Dafoe, Richard Jenkins, Rooney Mara, Ron Perlman
Duração: 2h30
Sinopse: Um ambicioso vigarista com talento para manipulação se depara com uma psiquiatra que é ainda mais perigosa.
A história se desenvolve em torno do vigarista Stanton Carlisle (Bradley Cooper) que está buscando a todo custo obter dinheiro. Apesar da qualidade do filme em sua inteireza tem-se aqui uma subutilização do elenco. Os atores servem de escada para cada arco dramático da história e seus papéis se tornam acentuações em relação à narrativa principal. O ponto central da narrativa está centrado na tomada de ações do Stanton.
O tempo da narrativa para a maioria dos eventos ocorre da maneira esperada com a proposta do diretor mas em determinado momento da trama os excessos acabam sendo brutais até para os estômagos mais fortes. Nunca mais tinha visto cenas de violência serem executadas com tamanha visceralidade.
O filme apresenta indícios do destino de Stanton mas antes disso existe uma pequena centelha de esperança sobre um final feliz. Isso, no entanto, será minado gradativamente ao longo das próprias decisões do personagem. Há uma sensibilidade neste filme que é curiosa. Por mais que todos possuam uma natureza cruel, no fundo são todos humanos e isso te faz desejar que nenhum deles sofra algum mal.
Fotografia, figurino, cenografia, montagem e direção executam bem os seus papéis. O filme quase não possui música exceto pelas que surgem no contexto e isso favoreceu um maior sentimento de imersão. O trabalho de foley foi devidamente executado e o tratamento final de som deixou uma ambientação quase sepulcral, contribuindo grandemente para o efeito final da obra.
É engraçado observar a hipocrisia circunstancial dos personagens. Enquanto alguns condenavam determinadas práticas julgando-as como inadequadas de serem executadas, compactuavam com outras formas de desonestidade e até mesmo agressão ao próximo para a sobrevivência do sistema que alimentava a mente dos homens que queriam se sentir superiores além dos seus próprios vícios. Todos ali possuíam o seu próprio grau de degeneração.
O que torna esse filme violentamente superior no quesito gráfico é que Del Toro deixou a câmera com planos estáticos para que você pudesse visualizar todos os detalhes. O grau de verossimilhança se isso fosse executado em uma pessoa de verdade certamente reforça a sensação de mal estar. Ele executa a violência praticamente de uma vez e fica difícil de absorver. E parece que a sua intenção é essa. Não é possível absorver. A onda de violência gerada aqui não é satisfatória. Não há prazer. Nem catarse. A violência não traz o expurgo. A violência traz dor. A obra é uma boa experiência sem dúvidas. Vale o tempo empregado. Parece-nos convidar a refletir sobre os nossos próprios demônios.
"Golpe de Sorte em Paris" é o primeiro filme do grande Woody Allen totalmente em francês.