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O HÓSPEDE

Por: Dino Lucas Galeazzi

O Hóspede (The Guest, EUA, 2014)
Direção: Adam Wingard.
Roteiro: Simon Barrett.
Elenco: Dan Stevens, Maika Monroe, Leland Orser, Lance Reddick.
Duração: 100 minutos


Em 2015, o crítico de cinema britânico Mark Kermode decretou que o ano de 2014 fora o Carpenter Year Zero (literalmente, o ano zero de Carpenter). Como o próprio Kermode aponta, algumas das melhores produções daquele período teriam sido inspiradas pela estética e pela poética horrífica do diretor norte-americano John Carpenter: a trilha do filme “Julho Sangrento” (Cold in July, 2014), por exemplo, remete às camadas sonoras de um sintetizador, instrumento musical recorrente na filmografia do mestre, enquanto a fotografia grande-angular das periferias suburbanas do meio-oeste americano em “A Corrente do Mal” (It Follows, 2014) parecem ter saído diretamente do clássico “Halloween – A Noite do Terror” (Halloween, 1978). Dentre os títulos citados pelo crítico, destacamos “O Hóspede” (The Guest, 2014).



A trama do filme gira em torno dos Paterson, uma típica família norte-americana que lida com a perda recente de Caleb, o filho mais velho que morreu durante uma ação de guerra no Oriente Médio. Eles recebem, então, a inesperada visita de David, um jovem veterano que alega ter sido grande amigo de Caleb, do qual traz as últimas palavras que o mesmo teria pronunciado em ponto de morte.


Aos poucos, David conquista a confiança de todos os membros da família: torna-se novo alvo das investidas de amor materno por parte da inconsolável mãe, Laura; defende Luke, o caçula, do bullying praticado pelos colegas da escola; massageia o ego fálico do pai, Spencer, enquanto os dois assistem jogos de futebol e bebem litros de cerveja.



Até mesmo Anna, a adolescente gótica e rebelde, cede ao charme do recém-chegado: além de ser belo, forte e romântico, David lhe dá o respeito e a segurança que há muito tempo ela não recebe de seu namorado, Zeke.


Mas David carrega consigo um terrível segredo.


Apesar de uma premissa óbvia, “O Hóspede” prende a atenção do público graças ao seu ritmo crescente, com direito a clímax sangrento e reviravolta final, e a um cuidado da direção para com os detalhes. Uma das coisas que o diretor Adam Wingard acerta em cheio é, com certeza, o uso inteligente da paleta de cores. Afinal, desde o princípio, o conflito que se instaura na família é manifestado pelo contraste entre cores quentes e cores frias: os laranjas e os vermelhos, geralmente associados a sentimentos positivos, preenchem os quadros em que aparecem os Paterson, cercados, assim, por torpor e sociabilidade, mas chocam-se com os azuis e os roxos que acompanham David desde o título de abertura, sendo tonalidades que remetem a sensações negativas.       



Não é à toa que a sequência final é marcada por uma explosão de luzes coloridas, refletidas por uma nevoa de gelo seco, uma forma inteligente de expressar o conflito interno vivenciado pelos personagens. Afinal, não é no cenário nostálgico dos anos 1980 ou no estilo rebuscado da fotografia que se esgotam os elementos carpenterianos presentes no filme, mas, sim, no dilema moral vivido pelos Paterson e, por conseqüência, por todos nós, público: se a justiça reacionária de David não nos fisgou, certamente não podemos deixar de observar que todas suas escolhas foram ditadas por um genuíno instinto de sobrevivência. Como ele mesmo afirma numa situação crítica, Caleb teria feito o mesmo... e, talvez, um punhado de espectadores também.


Óbvio, obras-primas dirigidas por Carpenter em décadas passadas, como “Assalto ao 13° DP” (Assault on Precinct 13, 1976), “O Enigma de Outro Mundo” (The Thing, 1982) e “À Beira da Loucura” (In the Mouth of Madness, 1995), para citarmos alguns exemplos, são bem mais contundentes e eficazes que o filme do Wingard ao pôr em dúvida a moral e a ética do ser humano, arrastando o público para dentro de situações extremas, que demandam escolhas igualmente extremas. Mas, no final das contas, o saldo para o cinema de gênero é positivo, uma vez que a mais nova safra de diretores independentes decide olhar para o passado e aprender a sétima arte por meio dos grandes mestres.    


Resenhas
https://www.cinehorror.com.br/resenhas/o-hospede?id=616
| 12003 | 05/09/2020
Um soldado se apresenta aos Peterson dizendo ser um amigo do filho da família, morto em combate. Após ser acolhido no lar, uma série de mortes começam a acontecer.
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