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O IRLANDÊS

Por: Saul Mendez Filho

Título Original: The Irishman (EUA, 2019)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro:  Steven Zaillian, Martin Scorsese.
Elenco: Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Anna Paquin.
Duração: 3h29 min.


Sinopse: Conhecido como "O Irlandês", Frank Sheeran (Robert De Niro) é um veterano de guerra cheio de condecorações que concilia a vida de caminhoneiro com a de assassino de aluguel número um da máfia. Promovido a líder sindical, ele torna-se o principal suspeito quando o mais famoso ex-presidente da associação desaparece misteriosamente.



“O Irlandês” é, em cada fragmento, um trabalho de esmero. Um trabalho que se aprecia nos detalhes, a cada revisão. Não é, de forma alguma, um filme que simplesmente se assiste – é um filme que se revisita, daquelas obras com as quais se aprende mais e mais. São três horas e meia de uma maravilhosa aula sobre política, humanidade e cinema.


Como de costume, Martin Scorsese pinta uma “capela sistina” da história social norte-americana, com foco nos imigrantes e no submundo do crime, em um panteão de personagens, tramas, subtramas e anedotas que se entrecruzam envolvendo figuras historicamente reconhecidas e outras nem tanto. É resultado de um trabalho investigativo de anos por parte do autor Charles Brandt em seu livro “I Heard You Paint Houses” (Ouvi dizer que você pinta casas) - um código da máfia para a eliminação de quem atrapalha os negócios. O enfoque da obra é o desaparecimento do líder sindicalista Jimmy Hoffa (Al Pacino), envolvido em empréstimos e troca de favores com a máfia italiana para a qual trabalha Frank “o irlandês” Sheeran (Robert DeNiro). A história é contada a partir dos depoimentos do Irlandês, figura central que encarou e tentativa de pacificação quando as ajudas mútuas entre a máfia e Hoffa partiram para as discordâncias políticas e desavenças, culminando no crime que pontua o drama.



Tal como fez em “Gangues de Nova York”, Scorsese parte de um documento vivo da história do país e realiza (também ao lado do roteirista Steven Zaillian) a perfeita reconstrução em imagens de uma época e de um povo. Longe de julgamentos ou discursos, Scorsese trabalha como um observador neutro que capta com suas lentes a beleza de cada momento e as nuances de cada diálogo, como um retratista que se preocupa com o documento que registra (neste caso, recria). Em um cenário cinematográfico de múltiplas vozes que gritam ou sussurram palavras circulares de ordem, Scorsese ecoa em seu silêncio a força dos documentos, exibe através de personagens e situações multifacetadas o quanto é intangível a completude do real.


Ainda, ao longo dos seus últimos 25 minutos, o filme se desdobra em uma ode ao humano sem suas vestes sociais. Onde acabam as máscaras e fantasias do xadrez social, começa o homem. É com a sombra da velhice atingindo a vida de Frank Sheeran que a obra poetiza a simplicidade das coisas, mudando o tom completamente e fechando com chave de ouro este que é um dos melhores filmes do ano e, provavelmente, da década. É quase o réquiem para uma época do cinema que não voltará. É por isso que um medo inquietante nos perpassa quando assistimos à interação tão natural desses atores; não temos mais a certeza de quando voltarão a ser vistos novamente num mesmo trabalho de tamanha relevância (se é que serão vistos).


Para finalizar, é recomendado prestar atenção à atuação de Joe Pesci em “O Irlandês”: ele abrilhanta o filme no papel de “Rus” Bufalino (sua atuação é literalmente um espetáculo à parte) e se sobressai mesmo estando ao lado de duas lendas que, não apenas por suas capacidades mas também por capricho do destino, tiveram suas carreiras muito mais reconhecidas no mercado cinematográfico. “Che succede, succede”. A sensação, neste caso, é de que o tempo pôs as coisas à prova - os aplausos internos para Pesci ressoam com o tom agudo de uma missão cumprida.


Resenhas
https://www.cinehorror.com.br/resenhas/o-irlandes?id=494
| 987 | 28/11/2019
Scorsese parte de um documento vivo da história do país e realiza a perfeita reconstrução em imagens de uma época e de um povo.
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