PEEPING TOM: VOYEUR & VIOLENTO
Peeping Tom (1960), dirigido por Michael Powell, é um terror psicológico que acompanha Mark Lewis, um cinegrafista tímido e perturbado que, nas horas vagas, comete assassinatos enquanto filma o medo de suas vítimas, sendo todas elas mulheres. O filme explora os traumas de infância de Mark, causados pelos experimentos cruéis de seu pai, e mostra como esse passado moldou sua obsessão por capturar o momento exato de terror de suas vítimas.
Controvérsias
Vale lembrar que Peeping Tom é um filme interessante de ser analisado devido justamente à sua recepção controversa na época de lançamento. Digamos que em 1960, o público não reagiu muito bem à maneira como a obra abordava temas como voyeurismo e obsessão, considerados tabus naquele período.
Outro fator que contribuiu para a controvérsia foi o fato do filme ser violento, há cenas de violência fatal e momentos de “quase nudez”, o que levou há anos mais tarde que o filme fosse visto como um precursor do gênero slasher, não tão chocante quanto um “The Texas Chain Saw Massacre” (1974), mas com certeza um dos pioneiros a introduzir elementos que se tornariam padrão dentro do gênero, como o uso de uma arma incomum.
A combinação de assassinatos explícitos e a exploração de traumas psicológicos deu ao filme um peso sombrio, que muitos críticos da época consideraram de mau gosto. Como resultado, o diretor Michael Powell enfrentou ataque dos críticos e rejeição do público, e sua carreira foi praticamente destruída. Com o tempo, porém, Peeping Tom ressurgiu como um clássico cult, ganhando o reconhecimento que a princípio lhe foi negado.
5 Minutos Voyeuristas
Sinto que preciso entrar em detalhes sobre os primeiros cinco minutos de Peeping Tom, pois eles definem muito bem o que é o filme. A cena começa sob a perspectiva de uma câmera, capturando uma mulher parada sob a luz de um poste.
O enquadramento é preciso e controlado, o que reflete muito bem o profissionalismo clínico de Mark. Não há tremores ou hesitação.
A câmera se aproxima, e a mulher, de forma prática, diz: “Serão duas libras”. Fica claro que ela é uma prostituta. Ela o conduz a um quarto, e o desconforto aumenta a cada momento, já que ele não diz uma palavra e apenas a segue com a câmera. A tensão atinge seu ápice quando ela começa a tirar a roupa e um som metálico corta o silêncio; uma sombra aparece brevemente na tela. Não é mostrado o que causou esse som, mas a mulher faz uma expressão de terror e a câmera se aproxima de seu rosto enquanto ela grita.
Corta a cena e estamos no quarto de Mark. Durante toda essa sequência, o som do rolo de câmera é constante, o que demonstra sua fixação por assistir aos assassinatos que comete. A cena se repete no projetor enquanto os créditos de abertura do filme surgem, e agora, como telespectadores, já temos a chance de perceber o quanto Mark fica eufórico ao observar a expressão de medo na face da mulher.
Toda essa cena pode parecer banal, mas não é, pois, a partir desse começo, já nos tornamos cúmplices de Mark, observamos todo o seu modus operandi e já se entende que ele irá repetir esse processo durante o filme. Quando assistimos à expressão de horror da mulher enquanto Mark a filma, a experiência se torna ainda mais inquietante, já que nos tornamos voyeurs da cena, exatamente como o protagonista. A câmera, com seu distanciamento calculado, não só nos posiciona como espectadores da violência, mas também reforça nossa própria implicação na dinâmica do olhar, deixando-nos estranhamente conscientes de nossa participação passiva nesse processo de observação. Assim, o filme nos coloca em uma posição de incômodo, revelando o prazer voyeurista do ato de assistir ao sofrimento alheio.
Geral
Tendo em mente os cinco minutos iniciais que analisei, posso dizer que o restante de Peeping Tom segue uma progressão que eu já esperava. Mas isso, de maneira alguma, é um defeito do filme. O que quero destacar é que, se você estiver esperando um grande plot twist, talvez não encontre aqui. A história se desenvolve de maneira mais contida e gradual, o que, no entanto, funciona muito bem para o tom psicológico do filme. Uma das poucas surpresas genuínas para mim, por exemplo, foi a arma peculiar que Mark usa para cometer seus assassinatos, o qual não irei entrar em detalhes para evitar spoilers!
Quanto à atuação de Carl Boehm, achei ótima. Ele dá ao personagem Mark uma psicopatia que se distancia do genérico, criando um tipo de vilão que é misterioso.
Boehm não exagera nos gestos ou nas expressões, o que torna o personagem ainda mais enigmático, frio, calculista e broxa desconcertante.
Agora falando da parte técnica, a iluminação e o uso das cores no filme me surpreenderam positivamente. A fotografia é impressionante, com um contraste de luz e sombra que contribui enormemente para a atmosfera de tensão. O diretor Michael Powell soube exatamente como usar a luz para criar um clima de desconforto, sem precisar recorrer a efeitos ou exageros. O uso das cores se destaca, principalmente em cenas dentro da câmara escura na casa do Mark, onde a luz vermelha se faz presente e chama bastante atenção esteticamente.
E, no geral, Peeping Tom é um ótimo filme, e eu recomendo para quem gosta de obras de suspense psicológico e para quem gostaria de ver um proto-slasher.
Dirigido por Jeff Wadlow, Imaginário – Brinquedo Diabólico é mais uma produção da Blumhouse que não assusta.