Resident Evil é uma franquia bastante cara a mim, apesar de só ter começado a jogá-la a partir do RE5, que não é bem a primeira escolha dos fãs, sejam eles da velha guarda ou novatos. Joguei quase todos, com exceção de alguns spin-offs mais obscuros, e zerei vários, incluindo o primeiro que, apesar da jogabilidade bastante defasada, ainda me parece o melhor da série. Assim sendo, não sou um purista, tampouco desconheço absolutamente a história de RE.
Após essa breve digressão, vamos ao RE Village. Ninguém duvida que, apesar do título sem numeração explícita, este é um jogo canônico, terminando a saga de Ethan, o personagem sem personalidade (o que não é um defeito nesse caso) apresentado no RE7. De certa forma, apesar da todos os absurdos dignos de filme B, Ethan ainda é o personagem com o qual mais me identifico, pois, além da perspectiva em terceira pessoa, ele é a única pessoa “normal” da franquia. Diferente de Chris, que dá soco em pedras, ou Jill, que em RE5 é uma ginasta olímpica, o Ethan é só um pai em busca de sua filha, um indivíduo despreparado (apesar do treinamento militar recebido entre um jogo e outro) tendo que lutar contra condições tão desfavoráveis que beiram o ridículo.
Falando em ridículo, Resident Evil nunca foi uma franquia para se levar totalmente a sério, sendo necessária uma boa dose de suspensão da descrença para apreciá-la e admirá-la em toda sua genialidade. O primeiro jogo, excelente como é, tem várias características de filme B, inclusive uma abertura bastante questionável em live-action. Outros trazem inimigos “imorríveis”, como o Dr. Birkin, o Mr. X e o Nemesis. Então não há que se buscar realismo aqui também, seja para as constantes mutilações do Ethan, seja para a fisionomia pantagruélica do Duque. Aliás, o jogo tem atrativos suficientes para nos distrair desses pontos, combinando momentos de exploração e ação, ainda que os puzzles fiquem perdidos entre o mastigado e o banal.
Falando em distração, os cenários são lindos e variados, possuindo sempre uma temática distinta de acordo com o vilão da área. A vila que dá nome ao jogo, ela própria com seus diversos atrativos, servirá de central para o jogador acessar cada território distinto. É uma pena, todavia, que passemos tão pouco tempo em cada cenário. O castelo Dimitrescu, com sua linda arquitetura e suas catacumbas horripilantes, é pouco aproveitado, com poucos puzzles e inimigos dispersos. Sua dona, a “mulher alta”, aparece tão pouco que fica difícil entender por que teve tanta atenção no material de divulgação. A mesma coisa pode ser dita dos demais e as lutas contra chefes são decepcionantemente curtas, com exceção da última. Não é que o jogo seja ruim, muito pelo contrário, mas parece um rodízio em que a picanha chega enquanto ainda estamos na metade do filé. Em outras palavras, há muitas ideias boas, mas nenhuma delas é explorada ao máximo e sempre ficamos com um gostinho de quero-mais.
O som é excelente e a dublagem brasileira não deixa a dever, mas a sincronia dos lábios, por sua vez, é, no mínimo, preguiçosa. Nunca é muito ressaltar o quanto os efeitos sonoros e o som ambiente favorecem a tensão em cada ambiente e a música emoldura muito bem as seções de ação, cujo gameplay é tão bom quanto. O único problema é a dificuldade, pois o jogo é fácil demais na dificuldade padrão, ainda que, eventualmente, a munição rareie. Nesse sentido, para aqueles que quiserem algo desafiador, o melhor é começar logo no Hardcore.
Por fim, meu veredito é o de que recomendo RE Village.
Misael Matos, vulgo Crimson Pidgeon
Bill Skarsgård busca vingança em "Contra o Mundo".