Escrito por Héctor Oesterheld e desenhado por Alberto Breccia, “Sherlock Time” marca o início de uma grande parceria entre os dois artistas e uma revolução no gênero da ficção científica. Lançada originalmente entre 1958 e 1959 nas revistas “Hora Cero Extra” e “Hora Cero Semanal”, a obra teve duas diagramações: vertical e horizontal, ambas mantidas pela editora Comix Zone. A edição é de capa dura, conta com 176 páginas e possui 11 histórias.
A trama possui dois protagonistas: Julio Luna e Sherlock Time. O primeiro serve como um reflexo do leitor, uma pessoa comum perdida em meio a tramas absurdas e acontecimentos que desafiam a concepção humana. O segundo é nosso guia, um detetive cósmico e conhecedor de acontecimentos passados e futuros. Homenagem direta ao icônico personagem criado por Sir Arthur Conan Doyle, dotado de um grande conhecimento criminal e tecnológico que os auxiliam a resolver e explicar os mistérios da trama para o inocente Luna. O carisma dos dois personagens é muito bem trabalhado e a camaradagem entre eles faz o leitor acreditar realmente na química da dupla. Química esta que será levada para outros trabalhos da dupla, mais especificamente Mort Cinder.
O tema principal da obra é a ficção científica, mas o suspense e o horror são trabalhados de forma magistral. O horror cósmico é muito bem abordado, o medo do desconhecido está sempre a espreita dos protagonistas e constantemente somos levados a outros mundos tão fantasiosos quanto os de Hp Lovecraft, autor que se tornou o principal representante do gênero. Sherlock sempre enfatiza o quão pequeno é o papel dos seres humanos no emaranhado de caos que é o universo, mesmo em relatos futurísticos o falso senso de protagonismo humano sempre é sobrepujado por uma força misteriosa e anciã.
No aspecto técnico temos uma HQ em preto e branco com traços realísticos; a ausência de cores não incomoda e traz certa angústia ao leitor. Angústia esta que faz nós, leitores, dançarmos seguindo a trama, já que usando apenas duas cores Breccia guia o ritmo da trama e traz à tona certos horrores primordiais. Como o desconhecido é sempre central nas histórias o desenhista abusa de camadas de tons negros no escuro, fazendo a escuridão ganhar um aspecto vivo e viscoso que persegue os personagens como pesadelos físicos e reais.
Em conclusão, temos um ótimo representante de nossos irmãos sul-americanos em solo nacional. As histórias são super instigantes e abrangem diferentes públicos, fãs de Doctor Who por exemplo se sentirão em casa. Esperemos que mais obras argentinas venham para o mercado nacional e nos apresentem a diferentes artistas antes desconhecidos.
Onde Comprar:
Uma aula com Mr. Dieter Laser.