Autor: Márcio Benjamin
Editora Darkside
Páginas: 224.
O livro Sina promete entregar uma história envolvente e assombrosa, enraizada no folclore nordestino e no imaginário popular brasileiro. Com um enredo estruturado em três linhas temporais que se entrelaçam, acompanha-se José Trancoso, um viajante sem rumo que se vê preso em uma estrada misteriosa, onde a realidade começa a se dissolver. Márcio Benjamin constroi um folk horror autêntico e visceral, trazendo à tona o sertão em toda a sua dureza, misticismo e beleza oculta. Sina é uma obra densa, marcada por segredos, sangue e tradição, conduzindo o leitor por uma narrativa hipnotizante e repleta de mistério.
Sina é o primeiro livro do autor Márcio Benjamin publicado pela Darkside Books em 2022. Nascido em Natal e Autor de romances, roteiros e livros de contos de horror rural e folclóricos (Maldito Sertão, Fome e Agouro), também já se aventurou no teatro e trabalha como advogado. Márcio também é roteirista de séries, curtas-metragens e longas-metragens. Ganhador dos Prêmios Moacy Cirne de Ficção de 2019 e do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica Narrativa Curta de Horror 2020. O Ilustrador também nordestino do sertão paraibano, Shiko é ilustrador, grafiteiro, roteirista, diretor de curta-metragem e autor de quadrinhos. Recebeu os prêmios Angelo Agostini e HQMix de Melhor Desenhista 2014, além do HQMix de Melhor Álbum de Terror/Aventura/Fantasia.
Como uma aposta no terror e suspense, Sina constroi um ambiente de tensão psicológica e sobrenatural, explorando medos profundos e mistérios inquietantes. Inspirado em relatos e lendas populares, o livro transforma o folclore nordestino em pesadelo, resgatando a tradição oral com uma roupagem sombria. Além do horror, a obra mergulha na riqueza linguística e nos dilemas sociais do sertão, abordando temas como identidade, cultura e resistência. Com uma narrativa intensa e personagens marcantes, Márcio Benjamin retrata a vida no interior e as complexas relações que ali se desenrolam.
O autor usa muito a sonoridade e os modos de falar típicos da região como a inversão da colocação da partícula negativa (ex.: "Sei não" em vez de "Não sei") o que torna a leitura bem imersiva e interessante. Com esse gancho linguístico é possível comparar o autor a Ariano Suassuna, especialmente em relação à valorização da cultura nordestina, à oralidade e ao uso de elementos do imaginário popular. Ambos utilizam uma linguagem que remete à tradição oral do sertão, aproximando o leitor da fala popular e da cultura. Tanto Suassuna quanto Benjamin incorporam mitos, lendas e personagens típicos em suas narrativas. O sertão nordestino é um elemento vivo que molda os personagens e os acontecimentos das histórias.
Além disso, o livro apresenta uma cronologia bem estruturada, tanto pela separação dos capítulos quanto pelo uso diferenciado de estilos de letra para distinguir as histórias do passado e do presente. O protagonista, Zé Trancoso, relembra os relatos que ouviu de seu avô homônimo, resgatando memórias de sua infância. Conforme Neto – como é apelidado – revisita o passado, segredos há muito esquecidos vêm à tona. As narrativas se entrelaçam gradualmente, construindo um cenário cada vez mais assustador, povoado por personagens bem delineados. Embora a complexidade das histórias seja acessível, cada detalhe é cuidadosamente inserido para garantir coesão e impacto.
Sina é uma obra visualmente marcante devido às ilustrações que acompanham a história, repleta de riqueza cultural e com a dose certa de macabro, equilibrando tradição e terror de forma envolvente. Senti falta apenas de um glossário ao final do livro, destacando as palavras do dialeto nordestino para familiarizar leitores de outras regiões do Brasil com essas expressões.
No mais, como diria meu avô: “dormir é bom, não dormir é melhor”.
Onde Adquirir:
Terrifier 3 fecha as pontas soltas deixadas pelos anteriores, cria novas para possíveis continuações
