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TEMPOS DE BARBÁRIE - ATO I: TERAPIA DA VINGANÇA

Por: Ivan Rios (O Mago Supremo)

Tempos de Barbárie - Ato 1: Terapia da Vingança| 2023 | Brasil
DIREÇÃO:
Marcos Bernstein
ELENCO: Cláudia Abreu, Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, César Melo, Kikito Junqueira, Pierre Santos, Adriano Garib, Claudia Di Moura, Roberto Frota e Giovanna Lima
ROTEIRO: Marcos Bernstein, Victor Atherino e Paulo Dimantas
DURAÇÃO: 118 minutos
DISTRIBUIÇÃO: Paris Filmes


SINOPSE: Durante uma tentativa de assalto, a filha da advogada Carla (interpretada por Cláudia Abreu) é baleada e fica em estado grave. Sem respostas, Carla tenta seguir a vida buscando ajuda em grupos de apoio. Ainda assim, inconformada com o destino da filha, a falta de soluções por parte da polícia e a degradação do sistema a sua volta, transforma a busca por justiça em uma procura por vingança, testando seus próprios limites para ver até onde poderia ir.


 


RESENHA:


VISCERAL! É a primeira definição que tenho para essa obra do cinema brasileiro que traz de forma muito peculiar elementos de drama, suspense e ação, imbricados intrinsicamente na trama. CABENDO AQUI DE FORMA PRUDENTE O ALERTA: esse filme é literalmente uma “ANTITERAPIA”. Essa ressalva é válida, sobretudo para pessoas que tenham passado por recentes traumas (decorrentes de violência). A abordagem aqui apresentada é de uma acidez existencialista que beira (literalmente) o caos, tendo por objetivo evidenciar os limites da compreensão e da tolerância diante da barbárie no “status quo” da nossa sociedade.   



A narrativa utilizada, embora por vezes confusa e controversa, explora o cenário periférico/suburbano da grande cidade, com suas mazelas e perigos inerentes, inseridos como elemento desafiador na vida da personagem principal (a advogada Carla). A evidente degeneração do sistema de segurança pública (o que por sua vez, não é nenhuma novidade do ponto de vista temático no cinema nacional contemporâneo), cria as condições necessárias que determinarão o revés comportamental da protagonista que decidirá agir por conta própria no justiçamento da sua causa.


O cerne da obra orbita em dilemas como: a vingança como elemento desumanizador, e a barbárie como fator social imposto através de um sistema institucionalmente e intencionalmente degenerado.



O filme é angustiante e vertiginoso em muitos momentos. O roteiro consegue capturar o dilema insustentável vivido pela personagem principal, sua sede de justiça e a impotência como passivamente observa a realidade, até dado momento. 


A antítese por sua vez é muito bem balizada, quando o roteiro decide expor os conflitos existenciais vividos pelos diversos personagens (inclusive coadjuvantes), estes apresentados sobretudo nas cenas do grupo terapêutico de ajuda mútua frequentado por Carla, onde ela interage com Natália (Júlia Lemmertz), sua amiga e terapeuta, esta por sua vez, assume papel preponderante nas relações conflitantes apresentadas no deslinde do filme.


Cumpre esclarecer que embora a violência seja um tema recorrente esse definitivamente não é o tipo de filme que se resume a mera ação, pelo contrário, o drama e o suspense se sobrepõem como fios condutores da trama. A ação aqui torna-se um mero elemento de contextualização, cedendo devido espaço para os densos diálogos e os conflitos existenciais já citados.



Do ponto de vista sociológico a obra emerge na origem da força motriz que rege a barbárie nos nossos dias, a INJUSTIÇA, quer seja pelas práticas corruptas como as instituições são regidas no nosso país, pela indiferença das autoridades, pelas desigualdades, bem como, pela desumanização das relações pessoais, tendo como limiar a ânsia de “justiça com as próprias mãos”.


Certamente haverá aqueles que não gostem da forma como severamente o armamentismo é abordado no filme. Sim, esse filme é uma crítica severa ao armamentismo indiscriminado vivido em nossa sociedade e o estado de barbárie ao qual inconscientemente estamos inseridos. A aterrorizante constatação a que se chega é de que, no fundo, “todos nós somos a Carla”, dentro do cenário posto.



É importante também pontuar que o filme não dialoga com o “politicamente correto”, longe de ser um filme chocante, a obra é muito mais claustrofóbica, dando lugar a um refinado suspense psicológico. Inclusive o clímax se dá quando o roteiro impõe determinada situação em que todos os envolvidos se tornam vilões dentro da narrativa.


De modo especial é valido destacar a atuação monumental de Cláudia Abreu, interpretando a advogada Carla, personagem na qual se entrega de forma descomunal, conseguindo exprimir de modo impecável os mais extremos sentimentos que o roteiro conseguiu impor. De modo secundário, merece registro a também magnífica atuação de Júlia Lemmertz, interpretando Natalia, terapeuta e amiga de Carla.  


Por fim, o filme deixa como evidente “moral da história” a forte mensagem nietzschiana, especificamente “humana, demasiada humana” e existencialista de que: “SOMOS AS DECISÕES QUE DECIDIMOS TOMAR”.


INSTAGRAM: @ivansouzarios


Resenhas
https://www.cinehorror.com.br/resenhas/tempos-de-barbarie-ato-i-terapia-da-vinganca?id=1035
| 687 | 12/08/2023
"Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança", dirigido por Marcos Bernstein chega às salas de cinema de todo o Brasil em 17 de agosto.
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