The Confession Killer (EUA, 2019)
Duração: 3h58 min
Após o sucesso de “Making a Murderer” e “Ted Bundy Tapes”, a Netflix parte para o controverso caso do assassino mentiroso ou do “não-serial-killer” Henry Lee Lucas. A figura real já foi representada por Michael Rooker no clássico ficcional “Henry: Portrait of a Killer” (1986), um slice-of-life intimista que o incluiu no hall dos serial-killers mais lembrados do cinema. No entanto, o verdadeiro crime neste documentário parte de um setor policial despreparado e malicioso que tira proveito de um criminoso de fácil sugestionamento e nenhuma preocupação social, resultado de um cérebro extremamente doente e uma vida à margem. Ao menos essa é a mensagem extremamente direta projetada pelo diretor Robert Kenner ao longo de seus 5 episódios de quase uma hora de duração.
A série inicia como um documentário investigativo comum, focando no assassinato de Frieda “Becky” Powell e Kate Rich, que levam diretamente a Henry Lucas. A partir daí temos o retrato de um assassino frio, simplório e desleixado com a própria higiene, que, no entanto, apresenta uma excelente memória para informação, imagens e espaço tridimensional e afirma ter matado mais de cem mulheres pelas rodovias dos EUA sem nunca deixar nenhuma pista. Nas mãos dos famigerados Texas Rangers e “apadrinhado” ao ponto de receber diariamente milk-shakes de morango, caixas de cigarro e ganhar mimos como material de pintura para passar o tempo em sua cela, Henry se encontra na melhor situação que já teve em sua vida, ganhando atenção da mídia nacional e internacional conforme se instaura um frenesi em torno de suas falsas confissões. Conveniente o bastante para encerrar casos de assassinato que tinham se tornado uma pedra no sapato da polícia, Henry acaba por se tornar o assassino responsável por mais de 600 crimes, uma onda de mentira que terminou por lhe conceder a pena de morte apesar de, no entanto, estar ligado apenas aos assassinatos de Becky e Rich.
Para realizar seu discurso sobre verdade e mentira a série ultrapassa a figura central de Henry Lucas e acompanha também outros personagens pontuais, entre eles os próprios Texas Rangers envolvidos, jornalistas de campo (também temos aqui o Hugh Aynesworth, que obteve as entrevistas base para “Ted Bundy Tapes”), advogados em estado de choque (Parker McCollough suou para defender um falso-confesso que não queria defesa), promotores públicos em tramas de perseguição política (o caso de Vic Feazell pontua muito bem a série e contribui para lançar uma sombra sobre a atuação dos Texas Rangers), groupies apaixonadas por serial-killers capazes de tudo (Phyllis Wilcox merecia um estudo por si só) e, em meio a todo esse caos de egos inflados e construção de imagem social, os familiares de vítimas supostamente assassinadas por Henry e que nunca mais tiveram seus casos reabertos.
Juntamente com “Making a Murderer”, “Ted Bundy Tapes” e as cômicas temporadas do mockumentary “American Vandal”, a Netflix consegue estabelecer ao produzir “The Confession Killer” mais um pilar digno de estudo a respeito do comportamento humano no que tange a verdade e mentira, fantasia e realidade. Essas obras são capazes de clarear como os constructos simbólicos humanos formatam, muitas vezes, um jogo de incongruências e incompatibilidades capazes de apagar o delineamento exato do que se entende por justiça.
"Men" consegue entregar uma estranha viagem que mistura reflexões sobre o machismo cotidiano e como a violência parece se alojar na mente de suas vítimas