The Pope’s Exorcist | 2023 | EUA
DIREÇÃO: Julius Avery
ELENCO: Russell Crowe, Daniel Zovatto, Alex Essoe, Franco Nero, Peter DeSouza-Feighoney, Cornell John, Lauren Marsden, Ryan O'Grady.
ROTEIRO: Evan Spiliotopoulos e Michael Petroni
DURAÇÃO: 103 minutos
DISTRIBUIÇÃO: Sony Pictures
SINOPSE: Inspirado nos arquivos reais do Padre Gabriele Amorth, exorcista-chefe do Vaticano. O Padre Amorth é convocado pelo Papa para investiga a aterrorizante possessão de um jovem garoto em solo outrora considerado sagrado pela Igreja Católica, tal missão revelará uma surpreendente conspiração que durante séculos foi desesperadamente escondida pela Vaticano, remontando aos terrores e aberrações ocorridos no período da Inquisição.
RESENHA:
Confesso que da minha parte a expectativa em torno do O Exorcista do Papa era grande. De modo que, assim como no filme 13 Exorcismos, também assisti no UCI Cine Oriente do Shopping da Bahia, retornando imediatamente no dia seguinte para o repeteco, visando assegurar uma crítica mais serena sobre a obra.
Indo direto ao que interessa, é inegável o peso da atuação e o carisma de Russell Crowe interpretando o Padre Amorth, trazendo a segurança e a estabilidade necessária ao audacioso enredo do filme. Sim, estamos diante de um filme que audaciosamente se propõe a ser mais que um mero filme sobre exorcismo, com seus inevitáveis chavões e clichês inerentes.
A trama de O Exorcista do Papa é empolgante e crescente, o filme meio que “não dá sossego” a quem o assiste (para nossa grata surpresa), não apenas pelas cenas de espanto e sustos (recorrentes), mas sim pela narrativa muito bem construída e a forma como os personagens são envolvidos e literalmente amarrados a esta narrativa. “Não dá nem vontade de piscar os olhos”! O filme vai se desenhando como um quebra-cabeças que pouco a pouco vai tomando forma.
O filme literalmente emerge nas catacumbas da Inquisição para tratar sobre os mais obscuros e bizarros mistérios velados durante séculos pela Igreja Católica, como dito anteriormente, a narrativa é tão bem construída que certamente poderia servir como prato cheio aos teóricos da conspiração (ala Dan Brown). Em dado momento, e isso agradará fãs do gênero, algumas passagens lembrará inevitavelmente as aventuras do Indiana Jones, muito inclusive pelo viés histórico. Bom, talvez esteja indo longe demais (no tempo), por não se tratar de obra comum ao público “menor” de 40 anos, mas fica aqui o registro e a analogia.
Ainda sobre a trama, o filme retrata bem a vociferante disputa dentro do alto clero no Vaticano, as especulações em torno da autoridade eclesiástica do Papa (tema muito atual inclusive), havendo ainda no seu contexto a terrível maldição que marcou severamente os rumos da Igreja Católica e que poderia de alguma forma explicar (ainda que não justifique, é claro) o período de extremo obscurantismo e genocídios promovidos pela Santa Sé.
O fato dos personagens estarem envolvidos com uma entidade demoníaca que conhece seus segredos mais íntimos amplia e ressignifica seus dilemas e pecados mais velados, onde a batalha entre o Bem X Mal, Luz X Trevas, é também da Redenção X Culpa. Isso torna a abordagem inédita e angustiantemente reveladora, pois de forma decisiva os personagens tem que lidar com os seus “demônios interiores” para que ao final o bem possa prevalecer.
PONTOS CRÍTICOS:
Como dito, estamos diante de mais uma obra sobre exorcismos e como tal continuamente acaba caindo na velha fórmula da possessão demoníaca que requer um padre catedrático no assunto autorizado pela Santa Sé, o que vemos alterar aqui é a forma sarcástica do Padre Amorth, fugindo ao estereotipo da irrepreensível seriedade característica nessas atuações. Isso trouxe, obviamente, mais leveza ao personagem, o que foi necessário tendo em vista que o mesmo se envolve severamente na possessão demoníaca.
“Ideia cheque”, como se diz na gíria… Existe um chavão muito comum que é a importância de se descobrir o nome do Demônio que está sendo combatido, sem isso o exorcismo não terá o necessário poder libertador que se espera. E vocês pensam que o filme se viu livre desse clichê?! Claro que não… Zero surpresa nesse sentido… Lá estavam o Padre Amorth e seu fiel auxiliar Padre Esquibel (Daniel Zovatto) atrás do verdadeiro nome do cramunhão.
Nos minutos decisivos, especificamente nos últimos 15 minutos, se percebe claramente uma aceleração descompassada no filme, como se o roteiro quisesse preencher naquele curto espaço de tempo uma lacuna que sinceramente não existiu, dado a exata cadência e a forma linear como vinha se desenrolando a narrativa até ali. Essa mudança é perceptível, e elementos, tais como efeitos especiais (até então dispensados) passam a incorporar a obra provocando certa estranheza, lembrando ao final ainda que vagamente a estética do filme Constantine (2005), entretanto, sem prejuízo ao contexto geral.
Por fim, admito que O Exorcista do Papa consegue superar satisfatoriamente a barreira das previsibilidades e controvérsias sobre o que ainda se pode esperar de filmes com esse tipo de temática, ou seja, provou que é possível sim “encontrar coelhos nesse mato” ou se “tirar leite dessa pedra”, isso com esforço descomunal para não orbitar na mesmice, valendo-se de um enredo diversificado e uma narrativa coesa, sublinhada com a brilhante atuação de Russell Crowe, capitaneando o elenco. Uma boa obra, que certamente vale o ingresso. Sem frustrações!
INSTAGRAM: @ivansouzarios
Too Old To Die Young é ruptura, é pós-modernidade... é neon-noir. E por muito tempo será alvo de críticas negativas por parte de um público totalmente despreparado, o espectador médio, 100% serializado, o maratonista da Netflix, o nerd do Universo Marvel ansioso pela fase quatro.