The Offering, 2023, Estados Unidos, Reino Unido, Bulgária.
Diretor: Oliver Park.
Roteiro: Hank Hoffman (roteirista) e Jonathan Yunger (escritor).
Elenco: Nick Blood, Emily Wiseman, Paul Kaye.
Duração: 93 min.
Sinopse: Desesperado para pagar suas dívidas, um homem tenta secretamente manipular seu pai para que venda sua funerária. Sem saber, desatará um espírito maligno que passa a mirar em sua esposa que está grávida.
2023 promete ser um ano muito bom para fãs de terror: o ano contará com inúmeros títulos promissores em diversos subgêneros, como, para os amantes de grandes produções, “Batem A Porta”, de M. Night Shyamalan (já resenhado pelo Cine Horror aqui); para quem gosta de obras mais alternativas da A24, “Beau is Afraid” de Ari Aster; e até mesmo, para os amantes do bom e velho trash, “Winnie The Pooh: Blood and Honey”, de Rhys Frake-Waterfield. Já o filme de hoje, “Oferenda ao Demônio”, não está fora da lista de lançamentos promissores, mesmo que considerado um dos títulos mais humildes ao ser comparado aos enunciados dos longas mencionados anteriormente. Entretanto, se você é uma daquelas pessoas que acredita que simples é sinônimo de medíocre, você estará cometendo um terrível erro ao não dar uma chance a este filme.
Ele trata de duas histórias que, por uma infeliz coincidência, se cruzam e traçam um paralelo complexo o suficiente para ter material para um segundo filme: a primeira história conta com Yosille, um homem que tem a intenção de trazer a esposa de volta à vida com a invocação de um arcanjo, mas acaba trazendo Abyzou, uma criatura demoníaca antiga, que se alimenta de crianças; já a segunda história, é sobre Arthur, um corretor imobiliário aparentemente bem sucedido, que leva Claire, a sua esposa grávida, para conhecer seu pai Saul, um dono de funerária que tem ascendência tradicionalmente judaica. Dentre desavenças familiares, ambas as histórias se cruzam e o fator que traz o horror sobrenatural ganha poder.
Desde o início, é possível notar inspirações (ou talvez homenagens?) vindas de diversas obras de terror. Inevitavelmente, logo de cara, é impossível, por razões óbvias, não perceber “The Vigil - O Despertar do Mal” (2009), um filme de terror igualmente focado no sobrenatural com a temática judaica; mas de forma menos óbvia, ao assistir o filme senti o mesmo desespero característico que senti ao ver “Hereditário” (2018) devido à construção desesperadora e sufocante de uma narrativa onde você é forçado a assumir a posição de passageiro enquanto apenas assiste as decisões ruins dos personagens sendo repetidas múltiplas vezes - e, esperançoso, busca imaginar que essas decisões vão se mostrar na verdade afortunadas ao longo da trama ou que o acaso tratará de trazer uma resolução digna a estes personagens por quem construímos alguma empatia, mas essa esperança é justamente o instrumento, num momento posterior, consumir e quebrar o público.
Entretanto, diferente de “Hereditário”, “Oferenda ao Demônio” não tem o enfoque sobrenatural em Paimon, mas sim na criatura mencionada anteriormente, Abyzou, uma entidade mitológica feminina da crença judaica que é responsável por trazer a abortos espontâneos e pela mortalidade infantil devido à sua inveja por ser, ela própria, infértil; E enquanto filmes de terror sobrenatural religioso não são os meus favoritos, é preciso admitir que o background em demonologia e religião do filme foi devidamente bem pesquisado, contendo uma retratação, até certo ponto, realista de rituais e do uso de simbolismos, como sigilos. E esse artifício extra funciona muito bem para deixar a ambientação ainda mais perturbadora.
E falando sobre ambientação, a tensão gerada pela trilha sonora de Christopher Young - nome por trás dos clássicos “Hellraiser” (1987), “O Chamado” (2004) e “Arraste-me Para o Inferno” (2009) - traz não apenas uma tensão constante, mas o devido toque sobrenatural aos jumpscares (sim, aos que preferem terror menos provocativo, sinto informar que este tem vários jumpscares) que serve como combustível para o sentimento de que a Abyzou, não é nova ou fraca, mas sim uma força maligna existente desde os tempos antigos, conhecida no Império Bizantino e no Egito copta por diferentes nomes.
Dentre os pontos negativos, atuações mornas acabam, muitas vezes, cortando o clima aterrorizante, mas talvez o responsável seja o roteirista, que possivelmente não conseguiu transmitir através da sua escrita reações realistas aos personagens diante dos acontecimentos da trama. Além disso, há também cenas desnecessárias, que não contribuem ao plot e parecem apenas trazer um tempo extra ao filme sem significado algum.
Em resumo, “Oferenda ao Demônio” não tem um roteiro perfeito, traz clichês, algumas atuações medianas e sequer traz uma identidade exclusiva - e acredito que esta nem é a intenção do diretor -, mas é uma obra válida e positivamente assustadora, que até foi capaz de me surpreender em certos momentos. O filme agradará (ao menos alguns) gregos e troianos: o tradicional fã do horror-jumpscare em busca de adrenalina e o fã do terror psicológico, que busca a experiência de uma cena sutilmente perturbadora presa em sua mente ainda após créditos finais rolarem.
Segue imagens e as meus pensamentos acerca dos paralelos entre diversas das potenciais inspirações ou homenagens que encontrei no filme:
Trailer:
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